segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Insistência - Allyson Alves




Reconheço, sou um cara insistente.
E não me vejo errado sendo assim.
Vamos deixar claro que,
Quem não vence pelos belos olhos azuis
(caso não os possua), vence por competência...
Ou vence por insistência!
E há de ser a insistência, também, uma competência,
Afinal, são poucos que tem a competência de continuar
Insistindo naquilo que acredita, mesmo que seja
Naquilo que se acredita sozinho, ilhado na sua própria fé.
E vamos concordar que perseverar contra a correnteza
Não é pra qualquer um.
Cedo ou tarde a gente alcança, a gente chega onde se quer.
Nem o bom, nem o ruim são constantes e eternos.
Ninguém acha graça de uma piada
E passa o resto da vida sorrindo com ela.
Nem chuta o pé da mesa com o mindinho
E chora eternamente pela mesma dor.
Insistir por um objetivo não é um erro.
Errar é insistir em métodos que não dão resultados.
Mas se estes são variáveis e a meta esta traçada,
Então, insistir no objetivo é insistir na prosperidade.
É ter fé na vida, e confiança em si mesmo.
A gente até pensa em desistir. Mas tenta outra vez.

O sucesso está escondido no meio dos fracassos.
Então é preciso fracassar pra chegar até ele.
Eu sou músico... No Brasil...
Insistir é preciso!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A trilha do pássaro de São Francisco - Allyson Alves.




Passaram-se dezenove anos desde a última vez que pisei ali. Foi doída a ida para a capital, mas eu julgava ter sido necessária para que eu fosse alguém na vida. E foram tantas vidas vividas nesse meio tempo... Que nesse miolo, muitas memórias foram esquecidas... Memórias de uma vida que já não me pertencia. Das poucas que ficaram, a maioria era de família, e uma, especificamente, lembro-me que muito me valia. Mesmo não sendo família, uma grande saudade eu ainda tinha. Deixei as malas, eu corri pra praça, ainda de dia.
Fui ter um dedo de prosa com Padre Bento, a quem eu pedia, desde pequeno:

“- A benção seu Padre!”

E respondia enquanto fazia o sinal da cruz com o polegar em minha testa:

“- Que Deus te abençoe meu filho!”

            Vou fazer aqui um breve resumo da história:
Ele tinha seu jeito, sereno, sorridente... Mas dava seus puxões de orelha quando devia.
E sempre me soava engraçado, receber a benção do “Bento”! Ora, na minha cabeça de criança, a benção do Padre Bento valia mais que a dos outros, já que era tão abençoado, que carregava “Bento” no nome.
Padre Bento me ouvia as confissões e dava sempre as mesmas penitências:

“- Reze um ‘Pai Nosso’ e três ‘Ave Marias’!”

E não importava o pecado, ou a quantidade deles... Na verdade, não era uma condição pra ser perdoado. Ele sabia que enquanto rezava, refletia sobre os pecados, e essa reflexão sempre levava ao arrependimento pelo que tinha feito. E o que é o perdão, se não o abraço acolhedor em resposta ao arrependido, não é mesmo?
            Padre Bento não era daqui. Tinha vindo em missão de outro lugar. Era pra ser só  uma temporada, mas se sentiu acolhido e resolveu ficar – dizia ele. No seu lugar eu teria ido pra longe daquelas beatas solteironas que mais julgavam os hippies do que faziam pelos pobres. Eu teria ido pra uma paróquia maior, que tivesse mais gente freqüentando, mais recursos, mais isso, mais aquilo... Eu pensava assim. Como cantou o Tremendão “ele é uma criança e não entende nada...”.
            Chegando, pois, à capela daquele lugar onde cresci, encontrei Padre Bento sentado à porta, como se já me esperasse com o sorriso sereno de sempre:

“- A benção seu Padre!” 

E fez-se todo o ritual. Padre Bento já demonstrava cansaço, sinais do tempo...
Começou a conversa, perguntando-me, por onde andei esses anos todos, que de mim só souberam notícias vagas. Lhe falei da vida, do trabalho, dos causos, das moças (este último assunto, abordei com cuidado, com medo de receber um grande sermão, que, surpreendentemente resumiu-se a um “- só não faça aos outros o que não quer para si!”).
Papo vai, papo vem, Padre Bento, embora já com uma certa idade, continuava o mesmo. O sereno homem de sempre, cuidando da capela como se fosse o último abrigo de todos dali, cuidando de todos como eu não cuidava nem de mim. Aturando novas gerações de beatas, políticos querendo apoio ou guerra, e os que só vêem Deus na necessidade. Nunca sequer virou o rosto a qualquer que fosse o pobre, doente, ou infeliz judiado pela vida...
Lá para o meio da conversa, perguntou-me o que eu fazia pelos meus irmãos (referia-se aos necessitados). Engoli seco, e não soube o que responder. Ele então me disse:

“- Vá para dentro da capela. Reze um ‘Pai Nosso’ e três ‘Ave Marias’!”

            De certa forma, aquilo não era uma confissão... Não oficialmente, mas resolvi acatar. Durante a reza, lembrei da minha infância. Lembrei que vivia igualmente com todos. Não conhecia a diferença entre eu e o rico, entre o rico e o pobre, entre qualquer um e eu. E percebi que tinha tido sucesso na vida... E era pobre de espírito.
            Ao me levantar, sentia-me menos frio. E lá estava Padre Bento, com o seu sorriso sereno, de sempre, no rosto, com os braços abertos e dizendo:

“-Agora sim, você voltou!”

Sentei-me com ele novamente no degrau da porta da capela e tornamos a fiar conversa. Padre Bento então falava dos homens, e falava de Deus. Falava daquele lugar, e das andanças do Cristo. E me fez entender sua vida ao dizer:

“- Filho, Jesus não levantou quatro paredes e fundou uma igreja. Ele apontou para um homem e disse que sobre ele estaria a sua Igreja. Cristo quer que sejamos Igreja em qualquer lugar, e devemos ser mais, onde esta mais fizer falta. Às vezes, o que te enobrece neste mundo, te empobrece a alma, e se a alma está fraca, não tens força pra ajudar ao outro. E se não ajuda, sua existência não faz sentido”.

            No fim da conversa, eu concordava com tudo o que ele havia dito. Estava impressionado com tamanho conhecimento que Padre Bento tinha, mesmo vivendo ali. Sua visão de mundo era, com certeza, maior do que a minha e de muitas outras pessoas por aí. Mas eu estava cego até então.
Ao se despedir, Padre Bento gritou de lá:

“- Deus te acompanhe meu filho! Vai e não perde o caminho de volta!”

            Por semanas refleti sobre as coisas que ele havia dito. O que mais me encabulava, era como uma pessoa que dedicou a vida à caridade e a simplicidade de um lugar afastado do resto do mundo, quase esquecido, poderia compreender tanto sobre tudo o que acontecia fora dali, como se conhecesse de perto tal realidade?
            Cerca de cinco meses depois, recebi a notícia de que Padre Bento havia falecido, dormindo (como os passarinhos, dizem). Descobriram que ele era de uma das famílias mais abastadas da capital. Deixou um testamento. Nele, haviam dois pedidos. O primeiro dizia para sepultá-lo ali mesmo, onde ele escolheu viver; o segundo dizia para doar tudo da família que lhe coubesse para três instituições de caridade que haviam ali pelas redondezas.
            Quando penso na vida e nas palavras de Padre Bento, lembro-me de São Francisco e seu compromisso com os aflitos... Penso que agora, São Francisco pode ter  lá, pousado em si, mais um passarinho...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cor de cais ao sol ou nebulosa escuridão? - Allyson Alves .





Se ela fecha a porta e sai...
Não sei se nubla ou se faz sol.
Quando ela se vai...
Não sei se há cor ou escuridão.
Quando ela fica mais...
Não sei se gosto ou finjo que não.

Se ela fala, existe paz.
Ou será que mais, se não?
Já não sei onde está o cais...
Se me amarro, ou parto em chão.
Se ela me inspira voar...
Não sei se o pouso é em vão.

Se ela chega, fecho a porta e nós
Nos amarramos pelo chão.
Se eu falo ela fica mais
E o pouso tem mais gosto, ou não?
Se ela inspira cor de cais ao sol
E o vôo não é vão

domingo, 2 de setembro de 2012

Esqueça - Allyson Alves.


Eu tinha tanta coisa pra dizer, mas graças a Deus, esqueci...
Dentre elas, tinha você... E eu esqueci...
E já sem tantas pra dizer, e,
Sem ter a quem dizer...
Acho graça... Deus! Eu esqueci!
Me sobra tempo pra fazer a cama de novo.
E escolher um novo lado pra deitar ao lado do meu.
Que esse lado me aqueça,
Assim como o meu lado aqueceu,
O lado de quem já se esqueceu.
E que o esquecimento não careça
De esquecer de novo, que, eu,
Preciso ter um lado, pra deitar ao lado do meu.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O atalho dos que não sabem onde querem chegar - Allyson Alves.






Tem gente que devia ficar.
Tem gente que não.
Tem gente que não quer se chegar.
Outras, pegam um atalho pelo nosso coração.
Descansam, e se vão.
Tem gente que parece gostar.
Tem gente que deixa claro a opção.
Tem gente que é boa de estar.
Tem gente que levamos junto um tempão.
Tem gente, dessas de bar, que vira amizade.
Tem gente que era pra ser, mas fica só na vontade.
Tem gente legal que nem parece de verdade.
Tem gente que não sabe das próprias maldades.
Tem gente querendo, gente largando.
Tem gente sofrendo, gente sonhando.
Tem gente partindo e gente chegando.
Tem gente que é, outras, vão enganando.
Tem gente que devia se chegar.
Pra não dar espaço pra outras.
Que só pegam um atalho pelo nosso coração.
Descansam o que precisam, e se vão.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O que fica - Allyson Alves.


O importante da vida talvez nem seja ela.
Talvez seja a obra.
Aquilo que se deixa de concreto, além das lembranças.
Estas, eu creio, que também levamos, e,
Talvez, seja a única coisa que levamos.
Vivo, também,para a minha arte,
Que é uma grande parte de mim.
É o que, de mim, vai ficar quando partir.
Não é que eu não ligue pra vida, eu ligo,
Mas acho que mais importante do que ela,
É o que se faz nela, o que se faz com ela.
É toda a diferença positiva,
Que a nossa vida possa fazer na vida do outro.
Daquilo que se deixa de bom,
Acaba ficando um pouco no outro.
E viveremos nele, mais um pouco.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Por que Poesia? - Allyson Alves.




Tem sempre que se ter poesia...
Perceber a poesia
Ver, ouvir, sentir, ler...
Tocar com poesia.
Cheirar a poesia.
A poesia sempre tem dor e amor.
Sempre tem cor e sabor.
Temos que ensinar a poesia
Para viver com mais poesia.
Ter amizades poetizadas
Pra desfiar uma prosa demorada.
Tem que se andar com poesia.
E não perde-la de vista
Para o acaso de se perder
Tê-la junto, como guia.
A poesia é livre como um passo à toa
Num dia de folga que se vive.
Não tem direção, nem caminho,
Nem roupa, nem partido.
Talvez um coração partido.
Talvez uma breve partida.
Pra viajar na poesia
Vivendo em versos
Versando em vida.

Abusada - Allyson Alves.


Parado aqui na minha janela
Pensei nela, de madrugada.
Era bela, pele clara
E com uma cara de abusada.
Ela, de mim, não tinha nada,
E eu só a tinha nas palavras.

sábado, 18 de agosto de 2012

Desame - Allyson Alves.




Desame, quando lhe trouxer angústia.
Desamarre o laço que une um coração ao outro.
Desligue-o de ti.
Descubra-se de novo.
Deserte-se para refletir.
Desminta o que não funciona mais.
Descole os pés do chão.
Decore uma boa canção.
Derrube todas as lágrimas de uma vez.
Demonstre teu outro lado.
Demore mais observando.
Deguste mais todos os momentos.
Delire quando lhe for bom.
Desapaixone um pouco.
Descontrole-se um muito.
Derrote o que lhe fizer mal.
Desenvolva-se a partir deste.
Decole para novos horizontes.
Detenha quando quiser pra si.
Desame, quando lhe trouxer angústia.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Porta-retrato - Allyson Alves.


Virei um cara abobado.
Até um pouco afobado.
Vivo mandando recado
Pra quem não me quer mais do lado.

Virei um porta-retrato.
Só um momento, fato, passado.
Vivo guardando a lembrança
De um tempo que ficou parado.

Virei um relógio atrasado.
Marcando, girando...
Vivo parado no tempo
Que corre nos ponteiros rodados.

Virei um palco.
Que anda muito apagado.
Vivo esperando a estrela
Pra fazer o seu espetáculo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Historinha pra você dormir - Allyson Alves.


Era uma vez uma Estrelinha
Pra quem eu fiz essa história:


Brilha lá no céu uma Estrelinha
Muito pequenininha.
Mas brilha tanto como o sol.
E brilhará sobre nós todos os dias
Todas as noites, depois do sol.
E não queria que ela fosse estrelinha,
Mas papai do céu quis acender mais uma luz.
Clareia os nossos caminhos,
Vigia daí o coração que ficou sozinho.
Tanta graça no sorriso
Que brilhou antes da hora.
Nasceu para ser estrela
E viveu pra ter essa história.
Papai do céu, cuida de nós,
E da Estrelinha que está no céu agora.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Nos Damascos da Ceia de Natal - Allyson Alves.


Cada um tem seu tempo.
Dura um tempo;
Aprende um tempo,
Pratica um tempo,
Ensina um tempo,
E observa um tempo.
Cada um com seu tempo
Me fazendo entender como lidar com o meu.
Eu ainda quero durar, um bom tempo.
Pra ver no que dá, daqui a um tempo.
E se eu viver o mesmo tempo que viveu
Quero saber como é viver pra durar.
Quero durar pra ver com o seu olhar
Tudo aquilo que viveu e que o próximo viverá!
Quero sentir o cheiro de muitos tempos,
De muitas roupas, de muita gente,
De muitos ciclos, de muitos climas.
Compreender a cor de muitas modas
De muitos lugares, de muita gente.
Ouvir o som de muitas músicas,
De muitas épocas, de muitas crias.
E ouvir o som da minha voz envelhecida.
Não quero ter o seu tempo
Mas, se tiver, que seja meu
Todo esse tempo que Deus me deu.
No seu tempo, o meu pouco viveu,
Mas nesse pouco aprendi
Que o tempo não deixa fugir.
Se formos bons com ele
Ele nos dura mais.
De repente é isso.
Quero ser avô, tio, tio-avô,
Pai, padrinho, irmão...
Um moço, um homem,
Ou um velho senhor
Que dure uns tantos anos
Que ensine uns tantos jovens
Um tanto quanto me ensinou.
Quero lembrar um tanto de ti que ficou
E usar em um tanto de mim, como foi.
Um dia poder conhecer o sabor de algo novo
Depois de tudo que já provei.
E tentar lembrar de como era na última vez.
Não sei como ou quanto será meu tempo.
Vou durar o que tenho pra durar,
E qualquer dia te encontro
Pra ganhar aquele abraço
Nem um pouco delicado
Que eu gostava de ganhar.
Se for em tempo de festa
Eu levo os Damascos...
Mas até lá, terei tempo pra lembrar!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Vazio - Allyson Alves.





Aqui com os braços desocupados
E as pernas sem andar, e sem rumo.
Eu aqui...
Com os olhos desocupados
Sem ter porque desviar por vergonha.
Tem uma caneca de café-com-leite vazia.
Uma viola com cordas já velhas,
Uma cama que dorme sozinha
E uma janela que não me convida.
Aqui...
Tem um nó que me salva do ato
De dizer o que guardo, e de fato,
Melhor que não saia de mim, por bem,
Algo que mais trará o mal.
Só aqui...
Está seguro, viver.
Sem ver, tocar, sentir, ouvir.
Sem ter porque andar, ir e vir.
Sem ter com que se ocupar.
Se o que tem em volta, só,
Não o faz feliz.

Nem tem céu - Allyson Alves.



Ela nem pensa em trair.
Pensa em dar uma volta, apenas, pela rua.
E nem pensa em outro,
Pensa nas cores do céu e no que fazer.
Ela não pensa nela
Ela só pensa nas plantas, nos bichos e coisas.
E não pensa em mim.
Pensa em tudo que não tenha eu.
Ela nem lembra.
Sobraram apenas lapsos de memória.
Ela nem quer fugir.
Só não tem vontade de voltar.
Ela não tem chão.
E nem lhe doem os pés.
Ela nem tem céu.
Pra pendurar as estrelas.
Ela é toda coisa que eu penso.
Se eu não pensar em nada.
Ela vai sumindo.
Mesmo que eu não queira.

sábado, 28 de julho de 2012

Plantando história - Allyson Alves.


Aqui tem um vale que vale ver.
Vale vir e sentir,
Vale vir e viver.

E vale verde
Perto dos outros,
Longe do cinza que não é desses.

Aqui tem um vale vivo:
Autêntico, valioso e antigo.
Tranqüilo, simples e bonito.

Aqui, escreveria um livro
No meio dos lagartos
E dos clássicos e eruditos.

Teria palavras de sol e frio,
Palavras de caldos e sorrisos,
De céu azul, de vinho tinto.

Aqui tem um vale um pouco menino.
Já, velho de idade
E novo, pros desconhecidos.

Me lembra as Gerais.
Tem seus telhados e trilhos,
Estação, praça e casarões antigos.

Aqui tem um vale, que vale voar
Pisando nas pedras, descendo, subindo,
Plantando história, colhendo amigos.

O que vale - Allyson Alves.


Era uma casa
Muito grande e muito contente
Cheia de música,
Cheia de gente.
Cheia de tipos
E cheia de modas.

Era uma casa
Bem diferente.
Que durava pouco.
Um pouco suficiente.
E tinha sorrisos
E tinha memórias
E contava, e rendia histórias.

Era uma casa
Para tranqüilos e impacientes.
Tinha valor
Ouro de ouvir
E uma vista de antigamente
Foi pouco a casa de todos
Foi muito a casa da gente.

sábado, 21 de julho de 2012

Olhando pra mim - Allyson Alves.


Gostei de vê-la.
Depois de tanto tempo que não o fazia.
Na verdade, olhei muitas vezes, mas não a vi.
E gostei de vê-la.
Sem motivo aparente, sem nada demais, nada de menos.
Só gostei de olhar pra ela.
E não tinha palavras e nem assunto.
E não tinha coragem de cruzar o olhar.
Mas fiz sem querer, ou querendo.
Acho que nada mudou.
Continuamos assim, desde quase sempre.
E que assim seja, e dure quanto tenha que durar.
Ela do jeito dela, do lado dela, com a vida dela.
Eu com esse jeito meu, desse lado, nessa vida.
Achei que fosse diferente.
Mas gostei de vê-la.
E vê-la, sem razão, olhando pra mim.

Esguio - Allyson Alves.


Por que ser um ser
De olhar esguio?
Que te esconde sem medo
Um frio vazio
Um corpo franzino
Um pouco sozinho

Por que ter um “T”
De tédio, à toa?
Se o “T” de tesão
Me alegra a pessoa
Te muda a rotina
Te ajuda na escolha

Por que ser um “T”
Tão franzino, à toa?
Que te esconde a rotina
E te escolhe esguio
Um sozinho vazio,
Um tesão de pessoa.

Um pé de vento - Allyson Alves.


Vou plantar um pé de vento
Bem aqui no meu quintal
Dizem que brota uma brisa
Cresce, e vira vendaval

Sopra às vezes, de mansinho
Abana forte no calor
Faz girar redemoinhos
Faz sorrir mesmo sem cor

Decola as pipas dos meninos
Bagunça as mechas das meninas
Esse pé que eu cultivo
Acho que me refrescou

E o quintal de ventania
Cada vez mais me cativa
Esse pé que eu cultivo
Acho que já lhe ventou

sábado, 23 de junho de 2012

Festejo – Allyson Alves.


Sou farrista, farreiro...
Quase um farrapo fiando conversa
Fazendo farra a fiado de festa
Falando em festejo!

Sou. E como não havia de ser?
Meu pai festeja em fevereiro, carnaval.
Minha mãe festeja julina, São João.
E eu festejo a vida, pulando fogueira,
Soltando confete e serpentina,
Cantando no bloco, dançando quadrilha!

Sou feliz, fraco, ferino, feroz.
Há quem diga: feio.
Fazendo festejo, fiando a fiado
Uma boa farra, festa ou festejo.

Sou. E não queria outro jeito.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Girassol - Allyson Alves.




Sempre gostei dos girassóis.
Da construção da palavra, da flor,
Da rotina diária, da planta, da cor.
O girassol, que também é alimento,
Me alimenta os olhos.
Já me beijou a boca e já relou na alma.
Girassóis que sempre apontam para o sol.
E o sol que alimenta o girassol,
Que alimenta os meus olhos
Com sua cabeleira amarela
E um jeito de flor
Que está sempre a sorrir!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Floresta dos Leões - Allyson Alves.




Senhor, sei que não devo chorar
Mas por esse meu povo, alguém mais deve olhar?
Não é a paz do conforto,
Mas a da fome matar.
Não é a beleza do corpo
Que a seca vem judiar.

Senhor, sei que não devo implorar
Mas pra que mais serve o povo que morre de trabalhar?
Não é riqueza no bolso
Mais vale um pão no jantar.
Não é esmola, seu moço
Só o feijão pra ajudar.

Senhor, sei que não devo desistir
Mas vou morrendo aos poucos, sem ver meu povo sorrir.
Não é a seca, o dolo...
Mas quem me assiste, agir.
Não é fingir que não há morte
Chegando antes, pro fim.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ponto. - Allyson Alves.



Um ponto.
Pode ser de partida.
Mas partida começo
Ou partida de ir embora?
Partindo do ponto em questão
Sejamos pontuais até o ponto final.
Pontuo aqui essa dúvida.
Anormal, a ponto de partir-se em mil.
Posso chegar a um ponto.
Posso partir de um ponto.
Posso partir um ponto?
Ponto-e-vírgula,  ponto de cruz,
Ponto de ônibus...
Ponto a ponto, pontilhado,
Ponteiro...
Ponteio.

Estranho não estar na Estrada Real - Allyson Alves.



Aquela estrada me deixa sempre ligado.
Cheia de curvas e verde dos lados.
Cheia de bichos, cheia de “causos”.
Cheia de si, cheia de nós.

Aquela estrada sobe um bocado.
Pra fazer descer lá do outro lado.
Tem neblina, tem geada...
E pro frio tem abraços.

Aquela estrada é minha desde sempre.
É caminho de ida, trilha de vinda.
É por onde eu me perco...
É por onde me acho...

Aquela estrada é estreita.
É estrada ligeira...
Estrada de histórias...
Estrada Mantiqueira...

terça-feira, 29 de maio de 2012

O Olho que Encontra a Razão - Allyson Alves.




Disse uma vez que era como um navio
Sem âncora e sem porto.
Eu queria fugir...
Mas só sabia escapar na poesia.
Disse também que era um lobo mau.
Mas perigo, só ofereci a mim mesmo...
Disse que o palco era minha vida,
Mas acho mesmo que seja o contrário...
Disse que não me olhariam mais de cima
E nem seria pisado,
Mas não me importo mais com as ilusões alheias...
Disse que seria rico quando crescesse,
Hoje eu tenho bons amigos...
Disse que queria viver pra sempre,
Um dia, de mim, ficarão palavras e canções...
Disse que não tinha razão sobre todas as coisas,
Porque nem todas as coisas precisam ter razão...

Ela Ficou Louca! - Allyson Alves.

Ela ficou louca.
Eu não entendo, mas ficou.
Gosto de vê-la, assim, louca!
Não economiza sorrisos,
Não economiza alegria.
Que coisa louca!
Ela já era louca ou ficou louca?
Não tenho nada a ver com isso.
Acho que não...
Sou louco de apelido. E só.
Mas tem tanta beleza nessa loucura!
Uma beleza tão alegre, colorida,
Diferente, feminina, e louca!
Ela ficou louca.
Não tenho nada a ver com isso.

Pouca parte de mim (de propósito!) - Allyson Alves.



Minha melancolia é relativa.
Não era bem assim que eu queria.
Assim que ficou, não sei se fiquei.
A vida é um grande show...
Às vezes sem palco, às vezes sem som,
Às vezes sem banda, às vezes sem luz...
Um show solo de cada um
Que faz do corpo o palco,
E tem em si a energia de uma banda,
O poder da voz, e a própria luz!
O corpo é a parte ruim, a parte humana,
Que limita, adoece... Padece...
A alma é a parte divina do homem,
É o berro, o solo da guitarra!
A alma é tudo que tens antes da vida.
E só o que resta depois de tudo.
Acho essa melancolia relativa,
Só dessa vez eu queria...
Não é assim que se brinca ou se vive.
Prefiro não ser, do que deixar de fazer o show!

Segredo ou Prudência? - Allyson Alves.



Não é segredo o que eu não conto.
É só um jeito, com medo, de deixar
Permanecer como é.
Pra não estragar a vista,
E nem desacompanhar 
Essa conversa atípica.
Nem sei se é segredo ou prudência.
É um querer sem sentido
E um poder perigoso.
Não é segredo o que eu não conto.
Eu canto, mas não conto.
Se eu canto não é segredo,
E como nunca se percebe assim,
Fico melhor, com pouco medo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O depois do depois. - Allyson Alves.


Nesta noite
Faltam palavras, faltam risadas,
Faltam toadas.
Faltam todas.
E falta uma.
Falta brilho nos olhos,
E cor de sorriso.
Falta o desafio, a culpa,
A dúvida e a dor.

Nesta noite
Falta frio.
Falta o corpo em seu tipo.
E falta sono, e falta o “como?”
Falta sim, falta não,
Falta companhia, falta solidão.
Falta falar, falta silêncio.
Falta pensar, falta querer,
E falta calafrio.

Nesta noite
Falta tanto,
Que me falta até dar tchau.