terça-feira, 30 de março de 2010

O Palhaço - Allyson Alves

Existe um momento
Em que o Palhaço mergulha na própria lágrima
Da própria maquiagem, da própria solidão.
Desta incrível profissão que lhe dá o pão.

O Palhaço é um homem bom.
Mesmo que não seja um Palhaço bom.
Mesmo que não seja um bom homem.
Mas é Palhaço, e pra alguém, isso há de ser bom.

Existe um momento
No meio da graça, de toda a palhaçada que lhe trará o pão,
Que o homem e o Palhaço se confundem.
Esse momento, no picadeiro cercado de gente, é de solidão.

O Palhaço é o aliado do homem.
E o homem na corda bamba de sua vida circense,
De sonhos lúdicos, domando gente, equilibrando o mês,
Num insistente malabarismo, sobrevive como truque de mágica.

O homem chamado de Palhaço
Faz graça com ele próprio.
Trabalha a alegria de quem o procura,
Multiplica sorrisos de até crianças adultas.

O Palhaço se vai com a água
No fim do espetáculo.
E fica o homem. Metade humano, metade Palhaço.
Hora aclamado, hora um pobre diabo...

Ser Palhaço é um dom, que alguns deixam de lado.
Preferem ser homens, porque Palhaço é algo abstrato.
Se esquecem que o homem, ora, tão forte e real, uma hora se vai.
E quem fica é seu aliado, de sorriso estampado. Eterno. Palhaço!

Minha Casa - Allyson Alves

Desejo de procurar minha casa,
Fazer a mala, pôr o pé na estrada,
Seguir viagem.

Calar-me pra ver se os ouvidos descansam.
Ir até a montanha e roubar-lhe um pouco do ar.
Trancar meus sentimentos no peito, abrir os olhos,
Praquilo que eu já conheço, mas rever de um novo jeito.

Desejo de procurar minha casa,
Acreditar na estrada, tomar coragem.
Me fazer vingar até a estiagem.

Escrever pra descansar a boca.
E ler pra ter no que pensar.
Escolher que humor vestir.
E deixar este amarelar no guarda-roupa.

Desejo de procurar minha casa,
Saber que a vida está de passagem,
Fazer a estrada. Na mala: coragem!

Pensar pra não me perder.
Dormir para que os sonhos me venham
Assombrar, estimular, entreter.
Acordar pra me refazer.

Desejo de procurar minha casa,
Me vestir de coragem, inventar a passagem,
Seguir viagem!

Esquecendo os bolsos vazios.
Tapeando a fome de alívio, a sede de escritos,
Que eu mesmo crio.
Ninguém me impede. Se tentam, eu rio.

Desejo de procurar minha casa,
Não sei se perdida, não sei se guardada.
Pintada de idéias. Cheia de graça!

Tropeços me atrasam o ritmo.
Levanto, e logo me sigo.
Sem mapa, sem rumo...
Só Deus e o caminho.

Desejo de encontrar minha casa,
Do lado de fora parece de palha.
Que venham os ventos. Nada ameaça!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Tranquilo (o dia que foi) - Allyson Alves

O dia foi cheio.
Cheio de pessoas, lugares, ares,
Assuntos, palavras, histórias...
Cheio de espaços vagos entre uma coisa e outra.
Mas às vezes não.

O dia foi cheio de músicas, algumas repetições...
Cheio de observações sobre todas as coisas...
Até que um dia cheio de cores, valores, notícias,
Risos e nenhuma carícia... mas foi tranqüilo.

Esse dia não se repetirá.
Mesmo que façamos tudo igual, tudo de novo.
Ele não se repetirá.
O que vimos e ouvimos jamais tornará a acontecer.
O dia é igual a um rio, que passa, corre, escorre e vai...

O dia foi bem quente, e eu não gosto muito disso.
Foi diferente, porque não reclamei dos acontecidos.
Foi um dia de momentos insistentes, mania de perfeccionismo.
Foi melhor que alguns que eu já tinha vivido.
Contudo, foi um dia tranqüilo.

O dia foi cheio, de resultados positivos.
O dia foi também bastante divertido.
Até que foi um dia autentico, de compromissos.
Obrigado Deus por mais um dia, e que dia tranqüilo!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Coisa de Amigos - Allyson Alves

A amizade é uma benção.
Uma aliança, uma família.
Um beco sem saída.
Amizade mesmo nunca é de mentira.

Amizade tem briga, tem riso;
Tem abraços, beijos, tapas e beliscos;
Coisas sem nexo, sinceras;
Coisa de amigos.

Amizade é colo, é abrigo.
É cola pro coração partido.
É escudo pros inimigos.
É zelo... coisa de amigos.

Amizade é aturar o divertido
O mal humorado, o sarcástico,
O sincero, a sensível, a maluca,
O introvertido, o extrovertido, o sagaz
O enrolado, o desinibido, a cautelosa,
O sem juízo, a tpm, a lua que virou,
O que se vê todo dia, o amigo sumido,
O que tem chulé, a que fala dormindo,
Aquele ronco de noite, a que ta sempre dormindo,
A distraída, o malucão, o torcedor, o beberrão,
A caçulinha, o paizão, a irmã do meio e o parcerão,
A otimista, o pessimista, o engraçado, a pervertida,
O que gosta de frio, o que gosta de praia,
A que dá sempre ouvidos, e a que só fala,
O porre, a marra, o mala, a chata, a piada sem graça,
A hora de voltar pra casa, a falta de grana, a falta de sorte,
O ponto de ônibus, a distância da casa, o romance, o bate boca,
A discussão sem motivo, a falta de assunto,
O assunto que ninguém esquece, a pelada do fim de semana,
O filme bom, o ruim, o engraçado, o que deu sono e ninguém viu o fim,
O barzinho, a conta do barzinho, a escolha do motorista pra depois,
Os encontros inusitados, os telefonemas inusitados,
As boas notícias pra contar, o amigo novo do grupo,
Aquele que já foi do grupo, as boas, as furadas,
A confiança e o risco de quebrar a cara, o carro que enguiçou,
A privada que entupiu, o dinheiro que alguém sempre deve,
E aquele que a gente nunca vai receber, o presente surpresa,
A festa surpresa, e a que você sabe também, a disputa por atenção,
Pelo banco do carona, pelo ultimo pedaço, pela companhia...

Amizade é algo que eu não sei explicar.
Coisa boa, coisa de Deus,
Coisa de amigos,
Pessoas como você, pessoas como eu.

terça-feira, 16 de março de 2010

O Café - Allyson Alves

Moça, sentada no quarto
Calçando sapatos largos
Que são meus... ora, são meus!
Abotoando uma grande camisa
Vermelha... é minha camisa!

Dizendo “eu fico aqui com você”
“quer colo?”, “eu faço o café”.
Que logo chega, por mãos de mulher.
E logo se ajeita. Açúcar, colher...
Pão e manteiga... “você também quer?”

Moça que cedo liga a TV.
Não senta pra ver,
Não pára pra ser.
Quer tudo em paz, eu e você.
Bem capaz, se pudesse prever.

Moça na cama, pronta pro sono.
Não fala, não reclama,
Não sente abandono.
Descalça os sapatos, desabotoa a camisa.
Ora... “boa noite”... boa noite querida!

sábado, 13 de março de 2010

Palavras que não me cabem - Allyson Alves

Outro dia me peguei dizendo coisas que nem me passavam pela cabeça. Não sei se é normal, se isso faz sentido, mas não combina muito comigo. Temos que responder por aquilo que falamos, e é sempre muito difícil quando falamos sem pensar, sem medir as conseqüências. E é possível dizer algo sem pensar antes? Sair construindo frases desordenadamente sem sequer contextualizar? É... não sei, mas fiz!
Falar é um vício, e um grande perigo. Falar é necessário, um exercício incansável, a porta pro imaginário do outro. É a causa de muitos conflitos, o ato, ou se recusar a fazê-lo. É o início de muitos amores, duradouros ou passageiros, ou uma tentativa infeliz de se conseguir a companhia e/ou o beijo de alguém (há quem planeje algo mais).
Falar é simples, mas saber o que dizer, e como dizer é complicado. Por isso, pensar! Por que não? Pensar antes de falar e não correr o risco de ser mal interpretado. De qualquer forma, é ainda uma tarefa difícil. Cada um com seu pensamento silencioso, em particular, mesmo os que têm o pensamento mais alto, mas estamos todos sempre pensando em particular. E pensar diferente faz com que cada um de nós se expresse de formas diferentes, e às vezes tão bem esclarecidos. Às vezes não, (eu mesmo) por muitas vezes expressando algo incompatível com o pensamento, gerando uma confusão generalizada do assunto entre quem discutia.
Tem quem fale com a boca, com o rosto, com os olhos, com o corpo, com as mãos, e, como é muito comum hoje em dia, com os dedos. Falar à distância, sem olhar nos olhos e poder dizer o que sente e o que pensa sem aquele clima desconsertante de ter o outro assistindo o seu ato de apenas dizer. Tímidos se apresentam e verdades brotam até mesmo sem os próprios descobrirem de onde saíram. Para quem tem muito a dizer, escrever é uma boa solução. Para quem não sabe o que dizer, escrever também é uma boa solução, como pra quem não sabe como dizer, como fazer ou como esquecer.
Escrever é poder enxergar as palavras, quase como um espelho. Vemos aquilo que não vemos quando está em nós. Escrever engrandece, envaidece, dá asas à imaginação, permite o reler físico além do psíquico, para melhor compreensão daquilo que se quer comunicar, ou relatar. Escrever é aliviar o peso de ter que carregar as palavras em forma de pensamento, todas, dentro da cabeça.
E como saber o que é real ou irreal? As palavras mentem? Não! As palavras disfarçam, enganam, porque são manipuladas. Palavras ditas têm valor de verdade? Passam total certeza de que estão carregando a verdade até o fim da frase? E as escritas? São mais confiáveis? Palavras não distinguem o certo do errado por si mesmas, palavras lindas, de amor, podem ser cruéis, causar danos... dor. E como saber? Ainda não descobri, mas vamos continuar tentando entender.
No fim desse texto, deixo claro de que não há em mim a certeza de que soube me expressar. Como eu pretendia, não sei, tentei, mas eu me expressei. A força da palavra está na liberdade de expressão. Escrever pode ser só um jeito tímido de dizer: “Eu amo você” ou “Eu odeio você”. Falar é dirigir-se ao outro com a sua palavra, a expressão oral e vital, do seu próprio corpo. Agora eu vejo que pensei, escrevi, usei de palavras para tentar me expressar, tentar dizer, tentar mostrar, e, principalmente, me fazer entender que falar é algo belíssimo, porém, complicado de se fazer.

Outra Vez - Allyson Alves

O que te faz pensar que tudo é ruim?
Eu digo a você que não é bem assim.
O que te faz pensar em mim?
O mesmo que me faz pensar em ti?

O que será que tem no fim?
Do arco-íris, da vida, do espaço...
No fundo do mar existe outro mundo?
No fundo dos olhos outra pessoa?

A vida real, bem me faz rir,
E curtir o que é e o que foi,
Faz-me planejar o que será.
E eu não me queixo se não gostar.

Hey garota, vem comigo!
Só dê ouvido ao seu coração.
Com o tempo te explico...
Todo louco tem um pouco de razão.

Confia no risco, e no imprevisto.
Com a cabeça erguida e um pouco de juízo
Passe pela vida, antes que ela passe por ti.
Dê a volta ao mundo, mesmo que depois pare aqui.

Todo dia e toda noite
Eu pergunto se a vida vale tanto açoite.
Ninguém nunca me responde.
Vou descobrindo por ai, não sei por onde.

Hey garota, que de tudo tem idéias tortas!
Quem eu sou ainda não importa
Vou valer a confiança
Seja de homem, mulher, adulto ou criança.

Eu digo a você que não é bem assim.
Tudo tem o seu por que, hora e lugar.
Sempre tentar pra ver no que dá.
E se não der, tentar de novo, e todo dia tentar!

Pra Você - Allyson Alves

Algumas horas falta tempo só pra nós;
Algumas horas falta um bom lugar.
Algumas vezes falto eu ou você;
Algumas vezes só ligando pra se ver.

Algumas horas falta grana e opções;
Algumas horas sobram opiniões.
Algumas vezes eu te sinto sem te ter;
Algumas vezes só entendemos se doer.

Algumas horas falta nota na cantiga;
Algumas horas falta o que sentir falta.
Algumas vezes falta bossa em nossas vidas;
Algumas vezes falta nova, falta a antiga.

Algumas horas falta som, falta silêncio;
Algumas horas falta luz e escuridão.
Algumas vezes não nos percebemos;
Algumas vezes entendemos, outras não.

Algumas horas são tão longas;
Algumas horas são chamegos relâmpagos.
Algumas vezes é normal, na medida;
Algumas vezes o exagero causa mal.

Algumas horas eu finjo que não amo;
Algumas vezes você finge que não vê.
Algumas horas você é um anjo;
Algumas vezes sou o diabo pra você.

Algumas vezes eu te amo e te amo;
Algumas horas ouço isso de você.
Algumas vezes nos brigamos por engano;
Algumas horas são o bastante pra entender.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Borboleta - Allyson Alves

"Caçando palavras como se caça borboleta;
eu via você no final de uma rua estreita
e ria de cá pra não te mostrar graça.
De graça, aqui fiquei muito tempo.
E que graça, custou tão caro!
Você voando feito borboleta
e eu me palavreando, garranchando em cadernos errados.
E quando aprendi a desenhar borboleta,
você me apreendeu no seu vocabulário!!"

A solidão - Allyson Alves

Eu me pergunto quem sou
E a solidão responde.
Não me interessa o nome...
Não me interessa o nome...

Ela até diz: meu amor!
Vive querendo romance.
E fala isso com fome...
E fala isso com fome...

A solidão me mudou
De casa e telefone,
Me transformou nesse tédio...
Desmedido perigo constante...

Revoltei-me de vez...
E disse à solidão:
“Parei com você!”
Vou ser eu, vou ser.

Voltar a escrever,
Cantar, sorrir, viver e esquecer
Que uma certa solidão pode aparecer.
E dela eu fujo, estou no palco pra quem vê.