quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Suspenso - Allyson Alves

Suspender a gravidade,
Fazer o planeta hibernar.
Pra que todo mundo sonhe bastante.
Pairando, leve, no ar.
E quando abrir os olhos,
Recomeçar pra ver no que vai dar.

sábado, 23 de outubro de 2010

A forma mais esdrúxula que eu encontrei para falar de Amor – Allyson Alves

O amor é um buraco.
Só que a gente vê e para pra analisar seus traços;
Alguns buracos estão cercados por faixas tracejadas,
E assim também se faz com o Amor.
E o amor é mesmo um buraco.
Um buraco consideravelmente confortável,
Do tipo que quase nunca dá vontade de sair.
E desse tipo só tem ele.
O Amor, sendo um buraco, é uma armadilha natural,
E é tão natural que capture um pobre desavisado.
Aos caçadores desse tipo de buraco, a árdua tarefa
De estar sempre disposto a cavar novos buracos,
Até encontrar um que tenha o devido espaço.
E já que não é pra falar bonito, consideremos que,
Buraco bom é buraco fundo. De que adianta um raso?
Buracos rasos não oferecem perigo,
Não amassam aros de carros, não assustam,
E não são percebidos.
Não os cercam com faixas tracejadas.
Assim é o Amor.
Bom mesmo quando é profundo.
Desses que te amassam, te marcam,
Te fazem tropeçar (ainda que quebre a cara),
Que te instigam a arriscar, aventurar-se a conhecer,
Observar, estudar, e aventurar-se além da faixa tracejada.
O Amor é um buraco muito bem disfarçado.
Um grande, profundo e camuflado buraco,
Do tipo que causa muitos e muitos estragos.
O tipo do buraco em que eu quero me estabacar.


Sem dúvida nenhuma, foi a coisa mais feia que eu já escrevi até hoje.
Mas não convenceu a me calar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mês - Allyson Alves

Esse mesmo mês...
Essas mesmas idéias que ocorrem,
E as mesmas expectativas consomem.

Esse mesmo mês...
Que envelhece e felicita,
Que interfere na vida.

Esse mesmo mês...
Que inaugura uma nova fração do futuro,
E futuro que se inaugura, por segundo, obscuro.

Esse mesmo mês...
Do dia 27, de Ação de Graças,
Do aniversário, daquele moleque.

Esse mesmo mês...
Sutil, suave, sadio e sereno,
Santo, sagrado, mês de Novembro.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pessoal e social - Allyson Alves

Quando eu me acerto, me erram;
E quando destrambelho, recriminam;
Quando eu me acho, me perdem;
E quando eu me perco, me encontram;
Quando eu amo, repelem;
E quando não amo, me fazem;
Quando quero, se afastam;
E quando eu abandono, me acolhem;
Quando eu espero, não vêm;
E quando distraído, me acontecem;
Quando eu digo que sim, não crêem;
E quando digo que não, se enganam;
Quando eu sei, não me valem;
E quando duvidoso, se inseguram;
Quando eu me apaixono, é platônico;
E quando não me apaixono, machuco;
Quando eu corro, não me alcançam;
E quando eu paro, me atropelam;
Quando eu digo que sou, desdenham;
E quando não digo, de mim esperam;
Quando eu falo, não ouvem;
E quando escrevo, não me esquecem;
Quando eu recuo, me atacam;
E quando ataco, eu venço;
Quando eu digo que vivo, eu vivo;
E quando eu digo que morro, eu morro!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Desabafo n° 4 - Allyson Alves

Venho por aqui registrar por essas pobres e mal escolhidas palavras, o que recentemente me aconteceu, e me vem acontecendo. Já que a memória recente não ajuda, recorro às teclas e tela (o que antes seria: papel e caneta).

O jeito que me senti a vontade naquela sexta feira, numa mesa de bar;
O jeito que ela sorria, olhava, e falava deslumbrada sobre as estrelas do céu das Gerais;
O jeito que a vida tem de complicar a minha vida;
O jeito que eu finalmente conheci quem eu tanto já havia conversado;
O jeito que ela tem de me divertir e carinhar;
O jeito que as coisas ficam quando volto pra cá;
O jeito tão particular de ver a vida, que nem se pode comentar com alguém;
O jeito que eu fico quando não tenho muito jeito pra ficar;
O jeito que me disseram que a minha música tocou no rádio;
O jeito bobo que a minha cara ficou;
O jeito breve de perceber que eu nem sempre sei o que fazer;
O jeito que ela tem de me confundir e complicar;
O jeito que a música tem de me levar;
O jeito que eu não conheço pra fazer todo mundo escutar;
O jeito que eu escrevo só pra me aliviar;
O jeito estranho com que tudo isso me faz funcionar.

Ainda volto qualquer dia pra todos os lugares que me fizeram feliz, ainda que neles não esteja mais ninguém.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Coração Cigano - Allyson Alves

Coração cigano que vive na trincheira
À espreita de uma nova, e inocente amoreira
Que por engano se deita com qualquer suspeita
E se aproveita do momento, e só. Não se respeita.

Coração cigano, sangrando sob essa amoreira
Usando de palavras em tom de besteira
Trocando as pernas, tocando as mãos
Sentindo frio, fome e paixão

Esse coração cigano, ao que tudo indica
De nada serve, pro ouvido ou pra escrita.
Se entrincheira em amorosas amoras
Amorenadas pelo sol sobre a amoreira

Um coração cigano, lesado e mundano,
Cansando a toa, causando o pranto
Do peito, no canto esquerdo e no pano
O que resta pra limpar o que sujou a amora.