Com mil arranjos e uma vida desarrumada.
Me arranjam trabalhos, problemas e despesas.
Me arrumo saudade, e vez ou outra me arrumo,
E vou matá-la!
E desarrumado parece que sempre estou,
E mal arranjado, e, ironicamente,
Arranjador de muitas canções.
E fazendo canções pra ver se me vê menos desarrumado.
Menos desafinado, menos desalinhado.
Pra não arrebentar essa linha de 240 km que nos une.
Linha de aço, que resiste aos meus nervos aflorados.
E resiste ao tempo, e resiste ao translado.
Eu, que me arranjei com você do meu lado,
Mesmo que esse lado não seja facilmente alcançado.
E que não sendo assim tão alinhado, me faço arrumado.
Pra você me ver abobado e admirado
Pelo afinado tom da nossa música,
No arranjo afiado da nossa melodia.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
Ela é do interior - Allyson Alves
Eu tenho uma viola caipira.
E ela sozinha se basta.
E me basta.
E basta ouvir o som da viola
Pra que o corpo e a alma se tornem
Braço e mão do som que ela emite.
Braço e mão que as tocam.
Hoje, longe dos amplificadores valvulados,
Das pedaleiras poderosas e distorções
Calibradas para o virtuosismo da guitarra,
A viola caipira me basta.
E somos, assim, felizes.
Foi preciso viver o mundo da complexidade,
Conhecer os materiais, a tecnologia,
As tendências e influências internacionais,
Pra perceber que estava na contramão:
O meu caminho aponta pro interior.
E na sonoridade do interior,
Que conheço desde criança, me encontrei.
E a encontrei.
Com dez cordas.
Tão simples quanto a vida do interior.
Vida simples, instrumento simples,
E de complexa compreensão.
Curiosamente foi no interior que nos conhecemos.
E nessa trilha mineira de estradas de terra
E vida simples, que nós nos apaixonamos.
quinta-feira, 24 de março de 2011
Rua dos Prazeres - Allyson Alves.
Sou eu escrevendo seu nome
Num muro pintado de verde.
Lá na Rua dos Prazeres.
E que tantos afazeres
Implicados ao teu nome
Me fazem escreveres?
Nos sonhos, entre sérios e seres
Tu me acordas, na Rua dos Prazeres,
Na casa de altos e baixos,
De fachada simples e muitas paredes.
Tão igual a qualquer casa.
Qualquer outra que já esteve,
Noutra, ou na Rua dos Prazeres,
Onde teu nome está na caçada,
Na sacada, escada e tapete.
Na sala, cama, quarto e rede.
Tão discreto que às vezes
Me vejo à porta da tua casa,
No cuidado pra não veres,
Riscando às pressas o teu nome
Com o meu num muro verde
Lá da Rua dos Prazeres.
Num muro pintado de verde.
Lá na Rua dos Prazeres.
E que tantos afazeres
Implicados ao teu nome
Me fazem escreveres?
Nos sonhos, entre sérios e seres
Tu me acordas, na Rua dos Prazeres,
Na casa de altos e baixos,
De fachada simples e muitas paredes.
Tão igual a qualquer casa.
Qualquer outra que já esteve,
Noutra, ou na Rua dos Prazeres,
Onde teu nome está na caçada,
Na sacada, escada e tapete.
Na sala, cama, quarto e rede.
Tão discreto que às vezes
Me vejo à porta da tua casa,
No cuidado pra não veres,
Riscando às pressas o teu nome
Com o meu num muro verde
Lá da Rua dos Prazeres.
quarta-feira, 23 de março de 2011
"Florriso" - Maria Morena Morria de Rir - Allyson Alves.
Morri,
Nas graças de Maria
Morri de amores.
Morri de Maria.
Morri.
De morena.
Morria de Maria morena... E ria!
Morena Maria morria de rir!
E da morte brotou “florriso”:
Sorriso de flor!
Que Maria regou.
As morenas pétalas
Pra Maria rir.
E riso de flor,
De Maria-flor.
Pra morena rir
Do que de mim sobrou,
Me pus a “florrir”.
E pra Maria, a flor,
Pra morrer de rir!
Nas graças de Maria
Morri de amores.
Morri de Maria.
Morri.
De morena.
Morria de Maria morena... E ria!
Morena Maria morria de rir!
E da morte brotou “florriso”:
Sorriso de flor!
Que Maria regou.
As morenas pétalas
Pra Maria rir.
E riso de flor,
De Maria-flor.
Pra morena rir
Do que de mim sobrou,
Me pus a “florrir”.
E pra Maria, a flor,
Pra morrer de rir!
terça-feira, 15 de março de 2011
Vai - Allyson Alves.
Vai.
Riscando o chão
Parede e mão
Papel e não
Se importa em não mais riscar
Qualquer borrão, sem direção
Sem retornar
Sem ter paixão no que pintar
Sem coração, sem giz
Sem tinta, sem lugar
Para pintar o seu sonhar
Se desenhando a planar
Sem céu, sem sol
Sem avisar
A hora que for terminar
Com que cor irá deixar
Pra lhe render
Um só olhar
Que vai pausar e se
Vai.
Riscando o chão
Parede e mão
Papel e não
Se importa em não mais riscar
Qualquer borrão, sem direção
Sem retornar
Sem ter paixão no que pintar
Sem coração, sem giz
Sem tinta, sem lugar
Para pintar o seu sonhar
Se desenhando a planar
Sem céu, sem sol
Sem avisar
A hora que for terminar
Com que cor irá deixar
Pra lhe render
Um só olhar
Que vai pausar e se
Vai.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Anoiteço - Allyson Alves
A cada dia reconheço
Que careço, padeço e anoiteço.
Impressiona-me quase não haver medo
Além do medo por não temer o que vejo.
E vejo um homem sem medo do futuro,
E de futuro nebuloso, talvez inseguro,
Talvez seja bom não saber do futuro
Mal sei deste homem que sou: nebuloso, inseguro.
Estranho não ter insônia.
Estranho meu bom humor.
Estranho os cabelos compridos, o olhar caído
E na boca nenhum sabor.
Reconheço que careço, padeço e anoiteço.
No raiar do meu dia, sob o sol, nada vejo.
Na escuridão da minha vida me aconchego,
E apareço na janela para um novo recomeço.
E recomeço hoje. E amanhã repito o mesmo.
Aos poucos vou perdendo o medo de quando careço
Até já não carecer ter medo ou futuro,
Se mesmo com o sol eu anoiteço.
Estranho não ter insônia...
E acordar sempre de bom-humor.
Que careço, padeço e anoiteço.
Impressiona-me quase não haver medo
Além do medo por não temer o que vejo.
E vejo um homem sem medo do futuro,
E de futuro nebuloso, talvez inseguro,
Talvez seja bom não saber do futuro
Mal sei deste homem que sou: nebuloso, inseguro.
Estranho não ter insônia.
Estranho meu bom humor.
Estranho os cabelos compridos, o olhar caído
E na boca nenhum sabor.
Reconheço que careço, padeço e anoiteço.
No raiar do meu dia, sob o sol, nada vejo.
Na escuridão da minha vida me aconchego,
E apareço na janela para um novo recomeço.
E recomeço hoje. E amanhã repito o mesmo.
Aos poucos vou perdendo o medo de quando careço
Até já não carecer ter medo ou futuro,
Se mesmo com o sol eu anoiteço.
Estranho não ter insônia...
E acordar sempre de bom-humor.
Que nem água - Allyson Alves
“Em tempos de maré baixa
A vida fica que nem água:
Insípida, inodora e incolor.”
“Vida escoada. Chorada.
E no seu leito derramada.
Cadenciada na correnteza irregular
Da geografia do seu curso.
A cada curva, cada pedra, e,
Cada queda, uma aventura.
Na correria das corredeiras
Dessa vida suada, de encharcar,
Pouco tempo se tem para perceber
O encher d’água dos olhos,
E o bem-estar mareado.
E a vida, chuva de mistérios,
Segue malhada, segue pingada,
E segue molhada de tempestades.
E o triunfo da vida é
Faze-la não se conter, até transbordar.”
A vida fica que nem água:
Insípida, inodora e incolor.”
“Vida escoada. Chorada.
E no seu leito derramada.
Cadenciada na correnteza irregular
Da geografia do seu curso.
A cada curva, cada pedra, e,
Cada queda, uma aventura.
Na correria das corredeiras
Dessa vida suada, de encharcar,
Pouco tempo se tem para perceber
O encher d’água dos olhos,
E o bem-estar mareado.
E a vida, chuva de mistérios,
Segue malhada, segue pingada,
E segue molhada de tempestades.
E o triunfo da vida é
Faze-la não se conter, até transbordar.”
Querenciando - Allyson Alves
Não sei ao certo o que eu realmente quero.
Eu sei exatamente aquilo que eu não quero, e,
Ainda assim, há de se aproveitar alguma coisa disso também.
Não sei quem eu quero, e bastava saber se eu quero,
Saber se realmente quero, já seria um bom começo.
Ainda que não durasse, como todo o resto não durou,
E como tudo não dura pra sempre.
Não sei quem quer o quê, e nem se nesse “quê” eu me incluo.
E nem se haveria jeito de querer a pessoa “quem”
Que também não deve saber o que quer.
Eu não sei o que realmente quero,
Mas sei exatamente tudo o que não quero.
Eu sei exatamente aquilo que eu não quero, e,
Ainda assim, há de se aproveitar alguma coisa disso também.
Não sei quem eu quero, e bastava saber se eu quero,
Saber se realmente quero, já seria um bom começo.
Ainda que não durasse, como todo o resto não durou,
E como tudo não dura pra sempre.
Não sei quem quer o quê, e nem se nesse “quê” eu me incluo.
E nem se haveria jeito de querer a pessoa “quem”
Que também não deve saber o que quer.
Eu não sei o que realmente quero,
Mas sei exatamente tudo o que não quero.
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