Quem me olha só
Não percebe a presença da minha companhia.
Na companhia do meu pensamento
Eu me enturmo, me divirto. Auto-suficiente.
Não. Não sou.
Quem me olha só
Não sabe ao certo como eu sou.
De onde venho pra onde vou;
Pra que lado sigo, se é verdade o que eu digo;
Se minhas palavras têm valor.
Quem me olha só?
Quem me olha e realmente me vê?
E será que me vê só?
Ou será que só me vê?
Quem me olha só
Não imagina nem o por quê.
E pra que saber? Eu não vou dizer.
Quem me olha só.
Quem me olha só?
Quem me olha... e só?
Quem só... me olha?
Pois só estando só consigo me ouvir;
Transcrever, tentando decifrar o que realmente quero dizer;
Escrevendo pra dizer, pra esquecer e pra acreditar;
Escrevendo também por escrever. Até sem querer.
E sem querer eu posso me ouvir.
Quem me olha só
Não sabe disso;
Porque só olha, não vê, não observa, não enxerga.
Quem me olha só
Eu sou um observador, um analista, um ouvinte.
Num mundo cheio de cegos e surdos, mas nunca mudos.
Pessoas que só olham e nada vêem.
Escutam, mas nada ouvem.
Mas falam, como profetas, como grandes sábios.
Quem me olha só
Me julga.
Porque julgar é humano!
Não estou só. Ainda que assim pareça. E só.
Aparece pra mim sempre alguma companhia.
Mesmo que do vento, da noite, do silêncio;
Que pra mim é música e alimento.
Quem me olha só
Esquece que eu sou um acompanhante também.
E acompanhantes não deixam de ser acompanhantes.
Mesmo que estejam desacompanhados.
Eu acompanho o andamento das minhas próprias observações.
E eu muito observo, do simples ao complexo.
Muito mais o simples. Sempre esquecido.
E que de tão simples torna-se complexa a compreensão.
Olhar é tão simples, até para o mais complexo.
Mas é complexo observar, mesmo que seja algo simples.
Eu observo quem me olha só.
E percebo que só, é quem me olha.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Enquanto Aguardava - Allyson Alves
Ultimamente me sinto atado.
Caçando palavras pros meus textos não cantados.
Tenho sido exagerado, sem espelho,
Como se o conserto desse muito trabalho.
Ando meio escravo.
Explorado por atos desastrados.
Tenho causado muito estrago.
Fingindo disfarço, mas é estrago.
Ultimamente me sinto atacado por todos os lados.
Me defendendo só no imaginário.
Padecendo no vento, no tempo, solitário.
Me propagando como som, no vácuo.
Me desligando, dormindo em pé... sentado.
Ultimamente caço o ponto exato
Entre eu e o equilíbrio desastrado
Que um dia encontro n’algum texto...
Sublinhado... de caneta preta, num riscado falhado.
Como é a vida... falhada... falível... cheia de buracos.
Caçando palavras pros meus textos não cantados.
Tenho sido exagerado, sem espelho,
Como se o conserto desse muito trabalho.
Ando meio escravo.
Explorado por atos desastrados.
Tenho causado muito estrago.
Fingindo disfarço, mas é estrago.
Ultimamente me sinto atacado por todos os lados.
Me defendendo só no imaginário.
Padecendo no vento, no tempo, solitário.
Me propagando como som, no vácuo.
Me desligando, dormindo em pé... sentado.
Ultimamente caço o ponto exato
Entre eu e o equilíbrio desastrado
Que um dia encontro n’algum texto...
Sublinhado... de caneta preta, num riscado falhado.
Como é a vida... falhada... falível... cheia de buracos.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Entendi o Adão - Allyson Alves
Agora pequei...
E coloquei meu nome na lista negra de São Pedro.
Se é que já não estava lá.
Pra aumentar minha fama de mau.
Não sei se foi por mal... mas pequei.
E não foi a primeira vez... nem será a última...
Nessa vida mundana que eu escolhi.
Tenho comigo a minha fé, que não é pouca,
Mas a vida é mundana. Às vezes imunda.
Não é o caso. Acho que não...
Ainda não estou imerso nessa atmosfera.
Ainda respiro um pouco de ar puro.
Pelo menos em vida, não sentirei cheiro de enxofre.
E nem vou ser torturado por toda a eternidade
Por algum chifrudo de tridente na mão.
E não vou, porque essa vida mundana não dura pra sempre.
E agora? Graças a Deus?
Ele me deu livre arbítrio, mesmo que eu não tenha escolha.
Mas não quero pensar no inferno... Nem no paraíso.
Um parece ser bom demais e o outro o oposto.
Prefiro o limbo então. Seria o meio termo? A Terra?
Sei lá, mas meu nome deve estar na lista negra agora...
Como um dos milhões de quebradores das 10 regras divinas
Escritas pelo barbudo Moisés... Cutuquei onça com vara curta.
Ainda tenho a minha fé. Que não vai sumir nunca...
E talvez seja a única forma de eu me redimir.
Mas nessa vida mundana, de ser um músico mundano,
Cheio de idéias mundanas e pensamentos imundos
Vai ser um pouco trabalhoso.
Que se dane. O trabalho dignifica o homem, não é o que dizem?
É Deus... Um dia a gente vai ficar cara a cara.
E o nosso papo não vai ser tão curto, temos perguntas um para o outro.
E se no final do meu julgamento a coisa estiver feia pro meu lado,
Faço que nem o João Grilo, e já vou com a poesia decorada,
E me agarro na barra da saia de Nossa Senhora.
Cruzo os dedos, faço uma prece sincera, e peço pelo Seu amor
Que tenha piedade da minha pobre alma.
No fundo, no fundo, nós dois sabemos que eu não sou tão ruim assim.
Penso até que ainda tenho jeito, salvação, conserto... Perdão.
Castigue-me com uns puxões de orelha do meu próprio Anjo da Guarda;
A quem devo desculpas pelas inúmeras situações em que lhe dei trabalho.
Enfim, eu pequei. E talvez tenha pecado mais uma vez nesse texto,
Quase que dizendo a Deus o que fazer comigo no dia do meu juízo.
Deus sabe o que faz. Teimoso sou eu. Torto, mundano, errado.
Pobre diabo... Ops... Melhor não falar, vai que o banidão se identifica
E força uma barra pra me levar pra baixo. Deus me livre! Odeio calor.
Que o Todo Poderoso perdoe a minha sinceridade, pois,
Me arrependo só em parte, daquilo que na minha cruz se somou.
E coloquei meu nome na lista negra de São Pedro.
Se é que já não estava lá.
Pra aumentar minha fama de mau.
Não sei se foi por mal... mas pequei.
E não foi a primeira vez... nem será a última...
Nessa vida mundana que eu escolhi.
Tenho comigo a minha fé, que não é pouca,
Mas a vida é mundana. Às vezes imunda.
Não é o caso. Acho que não...
Ainda não estou imerso nessa atmosfera.
Ainda respiro um pouco de ar puro.
Pelo menos em vida, não sentirei cheiro de enxofre.
E nem vou ser torturado por toda a eternidade
Por algum chifrudo de tridente na mão.
E não vou, porque essa vida mundana não dura pra sempre.
E agora? Graças a Deus?
Ele me deu livre arbítrio, mesmo que eu não tenha escolha.
Mas não quero pensar no inferno... Nem no paraíso.
Um parece ser bom demais e o outro o oposto.
Prefiro o limbo então. Seria o meio termo? A Terra?
Sei lá, mas meu nome deve estar na lista negra agora...
Como um dos milhões de quebradores das 10 regras divinas
Escritas pelo barbudo Moisés... Cutuquei onça com vara curta.
Ainda tenho a minha fé. Que não vai sumir nunca...
E talvez seja a única forma de eu me redimir.
Mas nessa vida mundana, de ser um músico mundano,
Cheio de idéias mundanas e pensamentos imundos
Vai ser um pouco trabalhoso.
Que se dane. O trabalho dignifica o homem, não é o que dizem?
É Deus... Um dia a gente vai ficar cara a cara.
E o nosso papo não vai ser tão curto, temos perguntas um para o outro.
E se no final do meu julgamento a coisa estiver feia pro meu lado,
Faço que nem o João Grilo, e já vou com a poesia decorada,
E me agarro na barra da saia de Nossa Senhora.
Cruzo os dedos, faço uma prece sincera, e peço pelo Seu amor
Que tenha piedade da minha pobre alma.
No fundo, no fundo, nós dois sabemos que eu não sou tão ruim assim.
Penso até que ainda tenho jeito, salvação, conserto... Perdão.
Castigue-me com uns puxões de orelha do meu próprio Anjo da Guarda;
A quem devo desculpas pelas inúmeras situações em que lhe dei trabalho.
Enfim, eu pequei. E talvez tenha pecado mais uma vez nesse texto,
Quase que dizendo a Deus o que fazer comigo no dia do meu juízo.
Deus sabe o que faz. Teimoso sou eu. Torto, mundano, errado.
Pobre diabo... Ops... Melhor não falar, vai que o banidão se identifica
E força uma barra pra me levar pra baixo. Deus me livre! Odeio calor.
Que o Todo Poderoso perdoe a minha sinceridade, pois,
Me arrependo só em parte, daquilo que na minha cruz se somou.
sábado, 17 de abril de 2010
Lamento (ainda que suspeito) - Allyson Alves
Não dá pra ser bom em todo momento,
Nem confortar todo sentimento,
Nem demonstrar tudo que se é por dentro.
Lamento, mas seria um grande veneno
Fingir desconhecer o mandamento
E plantar desgraça e sofrimento.
Sei o que se passa, e nunca escondemos!
Que se disfarça na graça, entre os desatentos
Que não vêem o que há. E assim torcemos.
Não dá pra fingir, e às vezes esquecemos.
Que ninguém saiba. O perigo que não vemos.
Que se entranha a cada palavra, no silencio do que lemos.
Lamento. Pra ti, é tudo que tenho.
Longe da vontade do que sozinho desenho,
Na cumplicidade escondida do meu pensamento.
No oceano salgado que me inundou o peito
Tento afogar o que há. Pra salvar o que respeito.
E deixar que sucumba, suavemente, num espaço estreito.
Desculpe a minha falta de jeito
De falar e escrever nesse entremeio.
Sei de tudo que existe e talvez não deva ser feito.
Lamento. Por eu ser esse sujeito.
Que isso te fez. Se fará mais, já não creio,
Além de versos controversos e olhares cínicos, suspeitos.
Nem confortar todo sentimento,
Nem demonstrar tudo que se é por dentro.
Lamento, mas seria um grande veneno
Fingir desconhecer o mandamento
E plantar desgraça e sofrimento.
Sei o que se passa, e nunca escondemos!
Que se disfarça na graça, entre os desatentos
Que não vêem o que há. E assim torcemos.
Não dá pra fingir, e às vezes esquecemos.
Que ninguém saiba. O perigo que não vemos.
Que se entranha a cada palavra, no silencio do que lemos.
Lamento. Pra ti, é tudo que tenho.
Longe da vontade do que sozinho desenho,
Na cumplicidade escondida do meu pensamento.
No oceano salgado que me inundou o peito
Tento afogar o que há. Pra salvar o que respeito.
E deixar que sucumba, suavemente, num espaço estreito.
Desculpe a minha falta de jeito
De falar e escrever nesse entremeio.
Sei de tudo que existe e talvez não deva ser feito.
Lamento. Por eu ser esse sujeito.
Que isso te fez. Se fará mais, já não creio,
Além de versos controversos e olhares cínicos, suspeitos.
Saudade - Allyson Alves
Nessas horas eu prefiro ir embora.
Ir embora antes que as pessoas vão antes de mim.
Pra não sentir saudade do adeus que elas dão.
O meu adeus não deixa lembranças, não em mim.
O das pessoas se entalha na minha memória.
Nessas horas eu preferiria chorar por horas
Como é bem de meu costume.
Eu que nunca choro, viro uma represa,
Que quando derrama, faz um estrago fenomenal.
Mas homem não chora. É o que dizem.
E eu creio, mesmo sabendo que é mentira.
Que do choro se precisa, mesmo que se prenda, ou finja.
Nessas horas eu prefiro ir embora.
Sair de perto não olhar na cara, nem encarar os olhos
De quem está próximo de mim, em frente, em torno, em roda.
As despedidas são tristes, ainda que festivas.
Tem cheiro de volta. Mesmo que não volte.
Tem morte de companhia, mesmo que retorne.
Tem cara de pra sempre, mesmo que tanto não dure.
E a espera, tem cara de velhice. Uma espera de ancião,
Que já não tem mais pressa, que espera sem esperar que vá viver pra ver
Ou que virá a encontrar ou reencontrar.
Eu não quero tanta espera, tanto ver, e viver
E nem esperar muito pra isso tudo chegar.
Nem ver os amigos indo embora;
Nem a família indo embora;
Nem a minha cabeça sã indo embora, se perdendo,
Dando espaço pra caduquice que conheço de tão perto.
Eu realmente não espero, mas não duvido.
Já leram na minha mão: você viverá até bem velho.
Só quero tempo de criar os filhos e ver brincar os netos.
Ver frutificar as sementes que eu plantei
E ver que bons frutos serão colhidos.
Só quero tempo de completar o ciclo.
E quando perceber que já me estou passando,
Como uvas ou ameixas que se enrugam;
Nessa hora eu vou preferir ir embora.
E que sobre de mim, boas lembranças,
Alguma saudade e nenhuma tristeza.
Ir embora antes que as pessoas vão antes de mim.
Pra não sentir saudade do adeus que elas dão.
O meu adeus não deixa lembranças, não em mim.
O das pessoas se entalha na minha memória.
Nessas horas eu preferiria chorar por horas
Como é bem de meu costume.
Eu que nunca choro, viro uma represa,
Que quando derrama, faz um estrago fenomenal.
Mas homem não chora. É o que dizem.
E eu creio, mesmo sabendo que é mentira.
Que do choro se precisa, mesmo que se prenda, ou finja.
Nessas horas eu prefiro ir embora.
Sair de perto não olhar na cara, nem encarar os olhos
De quem está próximo de mim, em frente, em torno, em roda.
As despedidas são tristes, ainda que festivas.
Tem cheiro de volta. Mesmo que não volte.
Tem morte de companhia, mesmo que retorne.
Tem cara de pra sempre, mesmo que tanto não dure.
E a espera, tem cara de velhice. Uma espera de ancião,
Que já não tem mais pressa, que espera sem esperar que vá viver pra ver
Ou que virá a encontrar ou reencontrar.
Eu não quero tanta espera, tanto ver, e viver
E nem esperar muito pra isso tudo chegar.
Nem ver os amigos indo embora;
Nem a família indo embora;
Nem a minha cabeça sã indo embora, se perdendo,
Dando espaço pra caduquice que conheço de tão perto.
Eu realmente não espero, mas não duvido.
Já leram na minha mão: você viverá até bem velho.
Só quero tempo de criar os filhos e ver brincar os netos.
Ver frutificar as sementes que eu plantei
E ver que bons frutos serão colhidos.
Só quero tempo de completar o ciclo.
E quando perceber que já me estou passando,
Como uvas ou ameixas que se enrugam;
Nessa hora eu vou preferir ir embora.
E que sobre de mim, boas lembranças,
Alguma saudade e nenhuma tristeza.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Café com Leite - Allyson Alves
Café com leite pra manter a minha mania.
E disfarçar a fome que sinto que comida não sacia.
Café com leite é assim o meio termo
Pra minha fome, pra minha sede, pros dias frios.
Pra preguiça de preparar o jantar.
É o meio termo daquilo tão sem graça quando só:
O café de preto forte e o leite de branco tão aguado.
O café que não deixa dormir...
E o leite, fortificante do corpo...
Café com leite me mantém.
Ou me engana quanto a isso.
Coisa de mineiro, mania mineira minha.
Que nem sou mineiro pra ter uma mania dessas.
E quem foi que descobriu que café com leite dava certo?
Só no Brasil, pra misturar preto com branco de forma tão gostosa.
Vai ver viciei. Café com leite duas vezes por dia, no mínimo.
Na verdade eu não sei se uma mistura dessas dá certo.
Pode dar problema, não só pro café, ou pro leite,
Mas pra quem ousou deliciar-se.
Dizem que dá desarranjo.
Mas a vontade é gigantesca.
Eu vejo, eu sinto o cheiro. Me consome.
E consumo desde que me entendo por gente.
E sem consumar só pra me consumir.
Eu fui criado assim, num meio tão misturado,
Mas nunca misturei pra ver no que dá.
Vira café com leite? Fica doce como tal?
E café com leite é a pessoa neutra da brincadeira.
Aquela que brinca, mas foge à regra do jogo.
Dá pra ser café com leite em tudo? Seria um bom argumento.
Eu sei que dá pra ver café com leite em tudo, em todos.
A cor bege... Às vezes puxa pro preto, ou pro branco...
O meu café com leite. O meu ritual diário, que pelo que percebi,
Não conheço bem. Nem sei como me portar.
Nem como consumir. Ou se consumir.
Um ritual de se consumar.
Café com leite que mantém a minha mania.
A minha mania mineira, de misturar as coisas.
E sempre descobrindo mais coisas pra misturar.
Mas café com leite não tem jeito, não há mistura como tal.
O cheiro do café passado. Quente.
Do leite fervido. Quente.
Da derrama: meio a meio na caneca.
O ponto de encontro: parede por todos os lados.
Caneca cúmplice de uma mistura quente e saborosa.
Mistura que dá bege. Um bege quente e brasileiro.
Misturado como todo brasileiro, que vive se misturando.
E talvez viva pra misturar e se misturar.
Café com leite, que nem o meu sotaque: quente, doce e misturado.
E disfarçar a fome que sinto que comida não sacia.
Café com leite é assim o meio termo
Pra minha fome, pra minha sede, pros dias frios.
Pra preguiça de preparar o jantar.
É o meio termo daquilo tão sem graça quando só:
O café de preto forte e o leite de branco tão aguado.
O café que não deixa dormir...
E o leite, fortificante do corpo...
Café com leite me mantém.
Ou me engana quanto a isso.
Coisa de mineiro, mania mineira minha.
Que nem sou mineiro pra ter uma mania dessas.
E quem foi que descobriu que café com leite dava certo?
Só no Brasil, pra misturar preto com branco de forma tão gostosa.
Vai ver viciei. Café com leite duas vezes por dia, no mínimo.
Na verdade eu não sei se uma mistura dessas dá certo.
Pode dar problema, não só pro café, ou pro leite,
Mas pra quem ousou deliciar-se.
Dizem que dá desarranjo.
Mas a vontade é gigantesca.
Eu vejo, eu sinto o cheiro. Me consome.
E consumo desde que me entendo por gente.
E sem consumar só pra me consumir.
Eu fui criado assim, num meio tão misturado,
Mas nunca misturei pra ver no que dá.
Vira café com leite? Fica doce como tal?
E café com leite é a pessoa neutra da brincadeira.
Aquela que brinca, mas foge à regra do jogo.
Dá pra ser café com leite em tudo? Seria um bom argumento.
Eu sei que dá pra ver café com leite em tudo, em todos.
A cor bege... Às vezes puxa pro preto, ou pro branco...
O meu café com leite. O meu ritual diário, que pelo que percebi,
Não conheço bem. Nem sei como me portar.
Nem como consumir. Ou se consumir.
Um ritual de se consumar.
Café com leite que mantém a minha mania.
A minha mania mineira, de misturar as coisas.
E sempre descobrindo mais coisas pra misturar.
Mas café com leite não tem jeito, não há mistura como tal.
O cheiro do café passado. Quente.
Do leite fervido. Quente.
Da derrama: meio a meio na caneca.
O ponto de encontro: parede por todos os lados.
Caneca cúmplice de uma mistura quente e saborosa.
Mistura que dá bege. Um bege quente e brasileiro.
Misturado como todo brasileiro, que vive se misturando.
E talvez viva pra misturar e se misturar.
Café com leite, que nem o meu sotaque: quente, doce e misturado.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
O lado ruim - Allyson Alves
Eu sou ruim, amargo, sisudo,
Rabugento, velho, mal-humorado.
Genioso, teimoso, orgulhoso,
Irritante, impulsivo e apagado.
Sou metódico, chato, irritado,
Ignorante, impaciente, desligado.
Branco azedo, pálido, magro,
Pobre, feio e sem papo.
Eu sou falante, tímido, ranzinza,
Bobo, sem sal, sem graça, sem nada.
Baixo, estranho, estúpido,
Egocêntrico, frio e dramático.
Sou pervertido, cínico, sarcástico,
Grosso, irônico, insuportável.
Explícito, sincero, inexato,
Inútil, introvertido e rústico.
E ainda assim... Por que?
Rabugento, velho, mal-humorado.
Genioso, teimoso, orgulhoso,
Irritante, impulsivo e apagado.
Sou metódico, chato, irritado,
Ignorante, impaciente, desligado.
Branco azedo, pálido, magro,
Pobre, feio e sem papo.
Eu sou falante, tímido, ranzinza,
Bobo, sem sal, sem graça, sem nada.
Baixo, estranho, estúpido,
Egocêntrico, frio e dramático.
Sou pervertido, cínico, sarcástico,
Grosso, irônico, insuportável.
Explícito, sincero, inexato,
Inútil, introvertido e rústico.
E ainda assim... Por que?
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Trova - Allyson Alves
Nessa temporada, tempo de temporal,
Trovejante, trovoada, sou trova.
Minha e dos outros
Como no sotaque do sul.
Troco as notas, de dó a dó, que caem.
Notas desvalorizadas, de um trovador, tosco.
Na minha trouxa levo meu fardo e minha farda.
Uma muda de roupa, papel e uma caneta falante.
Essa temporada, me fez trova.
Pesou meu fardo, e meu sotaque estranho.
Agora fadado a falar por notas valiosas
Que me fogem dos dedos... nenhum dó... que dó!
Minha farda não é verde, não é azul...
É da cor do meu humor, da cor do meu cabelo...
Que muda conforme o humor,
Conforme o sotaque, que não é do sul.
Só tenho a caneta que fala por mim.
Mas só no papel, que não guarda segredos.
Não tenho ninguém, pra nenhuma conversa.
Só minha roupa. Mas é muda e nada me diz.
Ouço uma trovoada.
Será Deus tropeçando em seu traje branco?
Será o tempo em seu sotaque trovejante
Trovando com a minha cara?
O peso do meu fardo se disfarça
Quando eu visto a minha farda
Sobre a muda de roupa sem sotaque
Da cor do meu cabelo e da cara mal-humorada.
Eu mesmo não falo nada
Sou trovador, solitário tocador de palavras.
Trocando o mal-humor em si
Por dó de outras toadas.
Tenho um papel aqui nesse mundo
Um papel, branco, bem a minha cara.
Onde vou deixar escrito, no meu sotaque,
O que eu fiz com a farda que me foi dada:
“Vesti meu fardo por cima dela,
Pintei da cor que o humor estava,
E em meio a trovoada do temporal
Passei sorrindo por essa temporada.”
Trovejante, trovoada, sou trova.
Minha e dos outros
Como no sotaque do sul.
Troco as notas, de dó a dó, que caem.
Notas desvalorizadas, de um trovador, tosco.
Na minha trouxa levo meu fardo e minha farda.
Uma muda de roupa, papel e uma caneta falante.
Essa temporada, me fez trova.
Pesou meu fardo, e meu sotaque estranho.
Agora fadado a falar por notas valiosas
Que me fogem dos dedos... nenhum dó... que dó!
Minha farda não é verde, não é azul...
É da cor do meu humor, da cor do meu cabelo...
Que muda conforme o humor,
Conforme o sotaque, que não é do sul.
Só tenho a caneta que fala por mim.
Mas só no papel, que não guarda segredos.
Não tenho ninguém, pra nenhuma conversa.
Só minha roupa. Mas é muda e nada me diz.
Ouço uma trovoada.
Será Deus tropeçando em seu traje branco?
Será o tempo em seu sotaque trovejante
Trovando com a minha cara?
O peso do meu fardo se disfarça
Quando eu visto a minha farda
Sobre a muda de roupa sem sotaque
Da cor do meu cabelo e da cara mal-humorada.
Eu mesmo não falo nada
Sou trovador, solitário tocador de palavras.
Trocando o mal-humor em si
Por dó de outras toadas.
Tenho um papel aqui nesse mundo
Um papel, branco, bem a minha cara.
Onde vou deixar escrito, no meu sotaque,
O que eu fiz com a farda que me foi dada:
“Vesti meu fardo por cima dela,
Pintei da cor que o humor estava,
E em meio a trovoada do temporal
Passei sorrindo por essa temporada.”
terça-feira, 13 de abril de 2010
A lenda do Lobo e sua amada Noite - Allyson Alves
Era uma vez um lobo.
Caçador e por isso caçado.
De quem fugiam as mulheres.
De quem odiavam os homens.
Um lobo comum? Não, não era...
Parecia um lobo guará.
O magro e misterioso lobo guará.
Mas era mau, incomum lobo mau.
Um lobo sem matilha.
Com poucas garantias.
E um medo que não lhe cabia
Da noite que sempre vinha no fim do dia.
À noite era clara, um pouco menos que o dia.
Ela era astuta. Nem tão quente, mas nunca fria.
E o lobo temia ainda mais quando chovia.
Ele se tornava a presa, ou pelo menos se sentia.
Da noite calada, ele pouco sabia.
Ela o queria, se pudesse, devoraria.
A noite sempre ia, até que deixou saudade.
Transformou em desejo o medo e a maldade.
Ele uivava pedindo que ficasse.
Nada adiantava. Não se resolvia esse impasse.
E só se apertava o nó na garganta por esse enlace.
O mais alto dos uivos não fazia com que algo mudasse.
Alguns homens notaram e deixaram o lobo em paz
Escreveram sobre ele até alguns anos atrás.
Outros queriam o prazer de vê-lo morrer.
E assim foi, sem o pobre nem saber por que.
A floresta calou até a noite chegar
E quando se pôs a chorar fez tanto barulho
Que os homens sentiram falta do longínquo uivo
E viveram com a culpa de serem injustos.
Os que escreveram disseram que depois
A noite vestiu seu luto, e ficou negra.
E ficou fria e os ventos que por ela passavam
Uivavam pela memória do lobo que antes o fazia.
A noite passou a eternidade em silêncio
Em dias mais tristes e outros menos
Verteu lágrimas, luminosas estrelas
E quando o choro é forte, chamam de sereno.
Em homenagem ao lobo, a noite pendurou a lua no céu
A deixou acesa, hora branca, hora amarela.
E em devoção ao amor que os homens assassinaram
Todos os outros lobos, desde então, uivam religiosamente para ela.
Caçador e por isso caçado.
De quem fugiam as mulheres.
De quem odiavam os homens.
Um lobo comum? Não, não era...
Parecia um lobo guará.
O magro e misterioso lobo guará.
Mas era mau, incomum lobo mau.
Um lobo sem matilha.
Com poucas garantias.
E um medo que não lhe cabia
Da noite que sempre vinha no fim do dia.
À noite era clara, um pouco menos que o dia.
Ela era astuta. Nem tão quente, mas nunca fria.
E o lobo temia ainda mais quando chovia.
Ele se tornava a presa, ou pelo menos se sentia.
Da noite calada, ele pouco sabia.
Ela o queria, se pudesse, devoraria.
A noite sempre ia, até que deixou saudade.
Transformou em desejo o medo e a maldade.
Ele uivava pedindo que ficasse.
Nada adiantava. Não se resolvia esse impasse.
E só se apertava o nó na garganta por esse enlace.
O mais alto dos uivos não fazia com que algo mudasse.
Alguns homens notaram e deixaram o lobo em paz
Escreveram sobre ele até alguns anos atrás.
Outros queriam o prazer de vê-lo morrer.
E assim foi, sem o pobre nem saber por que.
A floresta calou até a noite chegar
E quando se pôs a chorar fez tanto barulho
Que os homens sentiram falta do longínquo uivo
E viveram com a culpa de serem injustos.
Os que escreveram disseram que depois
A noite vestiu seu luto, e ficou negra.
E ficou fria e os ventos que por ela passavam
Uivavam pela memória do lobo que antes o fazia.
A noite passou a eternidade em silêncio
Em dias mais tristes e outros menos
Verteu lágrimas, luminosas estrelas
E quando o choro é forte, chamam de sereno.
Em homenagem ao lobo, a noite pendurou a lua no céu
A deixou acesa, hora branca, hora amarela.
E em devoção ao amor que os homens assassinaram
Todos os outros lobos, desde então, uivam religiosamente para ela.
Caríssima - Allyson Alves
Nego-te meu amor, porque dele não precisas;
Nego-te o beijo, pois culparia o resto da vida;
Nego-te outro olhar, pra que estragos não causem;
Nego-te o acordo, o que é natural de mim;
Dou-te a mão, se só ela quiseres;
Dou-te atenção, sempre que precisares;
Dou-te carinho, se carente um dia ficares;
Dou-te paz, se assim desejares;
Nego-lhe o perto, pois de longe já me vês;
Nego-lhe matar, a fome do que escreves;
Nego-lhe a face, minha, que desconheces;
Nego-lhe por bem, tudo o que de mim duvidas;
Dou-te um sopro de calor, se frio sentires;
Dou-te raiva e um tremendo temor, se assim for;
Dou-te quase nada, pelo bem do que bem sabes;
Dou-te o que sempre sou: nada além de paixão;
Nego-lhe o bem de fazer tua vontade;
Nego-lhe as respostas, reais, mal disfarçadas;
Nego-lhe também, pelo vício prazeroso de negar;
Nego-lhe o bem que te enganas ao imaginar;
Dou-te coragem, mas não sei se percebes;
Dou-te verdades que não ouves ou não conheces;
Dou-te liberdade, porque sei que envaidece;
Dou-te a escolha, que não me cabe, que não me deves.
Nego-te o beijo, pois culparia o resto da vida;
Nego-te outro olhar, pra que estragos não causem;
Nego-te o acordo, o que é natural de mim;
Dou-te a mão, se só ela quiseres;
Dou-te atenção, sempre que precisares;
Dou-te carinho, se carente um dia ficares;
Dou-te paz, se assim desejares;
Nego-lhe o perto, pois de longe já me vês;
Nego-lhe matar, a fome do que escreves;
Nego-lhe a face, minha, que desconheces;
Nego-lhe por bem, tudo o que de mim duvidas;
Dou-te um sopro de calor, se frio sentires;
Dou-te raiva e um tremendo temor, se assim for;
Dou-te quase nada, pelo bem do que bem sabes;
Dou-te o que sempre sou: nada além de paixão;
Nego-lhe o bem de fazer tua vontade;
Nego-lhe as respostas, reais, mal disfarçadas;
Nego-lhe também, pelo vício prazeroso de negar;
Nego-lhe o bem que te enganas ao imaginar;
Dou-te coragem, mas não sei se percebes;
Dou-te verdades que não ouves ou não conheces;
Dou-te liberdade, porque sei que envaidece;
Dou-te a escolha, que não me cabe, que não me deves.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Ando meio nublado - Allyson Alves
O que temer?
Talvez o problema seja o medo.
Talvez esteja o medo funcionando em mim
Como bom senso, me segurando,
Me impedindo de fazer besteira...
Será que é besteira?
Uma incrível e boa besteira...
Vai ver eu tenho medo.
Tenho medo dessa nuvem carregada.
Aonde eu vou ela vai, onde eu estou ela está.
Às vezes ela chove.
Às vezes deixa escapar luz. Um sorriso.
O que seria de um homem sem medo?
Perderia a razão?
Mas a razão também se perde, mesmo quando tememos.
E o que temer?
Temer o homem? Temer a escolha?
Temer o assombro de pensar em não temer.
E como seria sem medo?
Sem a força invisível me amarrando o corpo e a boca
Enquanto a mente viaja solta, e distraída deixa
Escapolir algumas palavras?
Vai ver o medo é só da nuvem, negra e carregada.
Que quando chove, eu finjo que não molha.
E o medo que dá, se ela descobrir e resolver virar temporal...
Do jeito que está às vezes me inunda.
Eu finjo que bóio, mas a mente mergulha.
E o que temer? A chuva? O temporal?
Ou o tempo passar e o sol voltar a brilhar?
Eu durmo sem saber se amanhã vai chover.
Será que vai? Vai chover em mim?
E o que temer? Eu sou livre! Eu sou.
Livre pra andar na chuva,
Encarando a nuvem negra cara a cara, carregada, irritada,
E desejando chover, desejando me molhar.
Uma hora o sol voltará a brilhar.
Esse tempo nublado nunca dura pra sempre.
Tenho até medo dessa confusão,
Já não sei ao certo qual é a real estação.
Por bem ou por mal, espero sem medo o amanhã chegar.
Mas só de pensar no clima, olha o medo que dá!
Eu penso bastante nesse clima... O tempo anda meio incerto.
E o medo não é bem de nublar.
Amanhã vai nublar... talvez chova... será?
Talvez o problema seja o medo.
Talvez esteja o medo funcionando em mim
Como bom senso, me segurando,
Me impedindo de fazer besteira...
Será que é besteira?
Uma incrível e boa besteira...
Vai ver eu tenho medo.
Tenho medo dessa nuvem carregada.
Aonde eu vou ela vai, onde eu estou ela está.
Às vezes ela chove.
Às vezes deixa escapar luz. Um sorriso.
O que seria de um homem sem medo?
Perderia a razão?
Mas a razão também se perde, mesmo quando tememos.
E o que temer?
Temer o homem? Temer a escolha?
Temer o assombro de pensar em não temer.
E como seria sem medo?
Sem a força invisível me amarrando o corpo e a boca
Enquanto a mente viaja solta, e distraída deixa
Escapolir algumas palavras?
Vai ver o medo é só da nuvem, negra e carregada.
Que quando chove, eu finjo que não molha.
E o medo que dá, se ela descobrir e resolver virar temporal...
Do jeito que está às vezes me inunda.
Eu finjo que bóio, mas a mente mergulha.
E o que temer? A chuva? O temporal?
Ou o tempo passar e o sol voltar a brilhar?
Eu durmo sem saber se amanhã vai chover.
Será que vai? Vai chover em mim?
E o que temer? Eu sou livre! Eu sou.
Livre pra andar na chuva,
Encarando a nuvem negra cara a cara, carregada, irritada,
E desejando chover, desejando me molhar.
Uma hora o sol voltará a brilhar.
Esse tempo nublado nunca dura pra sempre.
Tenho até medo dessa confusão,
Já não sei ao certo qual é a real estação.
Por bem ou por mal, espero sem medo o amanhã chegar.
Mas só de pensar no clima, olha o medo que dá!
Eu penso bastante nesse clima... O tempo anda meio incerto.
E o medo não é bem de nublar.
Amanhã vai nublar... talvez chova... será?
Na mesa do bar - Allyson Alves
Noites especiais
São recheadas de pessoas especiais.
Vivendo momentos especiais.
Recheados de histórias especiais,
Palavras especiais,
Recheadas de segredos especiais.
Olhares especiais
Com mensagens especiais,
Em direções especiais.
As implicâncias são especiais,
Únicas, distintas e dissimuladas.
Forçadamente formadas.
Essa mesa de bar se torna especial.
Um templo da celebração de amizades especiais
Entre pessoas, que por esse momento contemplam,
Sem saber, o que é realmente especial.
A vida é especial.
São recheadas de pessoas especiais.
Vivendo momentos especiais.
Recheados de histórias especiais,
Palavras especiais,
Recheadas de segredos especiais.
Olhares especiais
Com mensagens especiais,
Em direções especiais.
As implicâncias são especiais,
Únicas, distintas e dissimuladas.
Forçadamente formadas.
Essa mesa de bar se torna especial.
Um templo da celebração de amizades especiais
Entre pessoas, que por esse momento contemplam,
Sem saber, o que é realmente especial.
A vida é especial.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Sonhar é preciso, porém, impreciso. - Allyson Alves
Tenho cá meus motivos pra pensar que algumas coisas nessa vida têm nexo, outras não fazem o menor sentido. Tive um sonho estranho em que numa feliz festa de despedida pra mim, onde todos os meus amigos estavam reunidos, uma guria que eu nunca vi pessoalmente me chega pra se despedir. Aí o sonho acabou.
Esse negócio de interpretar sonhos ainda está além da minha capacidade de compreensão. Que festa de despedida? Por qual motivo? E por que uma pessoa que eu só conheço virtualmente me apareceu? O que ela representava? Andei por aí perguntando, e até que as opiniões acabaram se cruzando em determinados aspectos. Mas não se fez menos intrigante, nem menos incômodo e preocupante.
Sinceramente eu prefiro sonhar acordado em determinados momentos. Pelo menos quando sonho acordado, tenho a impressão de que sou eu que escolho e encaminho o sonho. Mas talvez seja só impressão, porque às vezes não encaminho e nem escolho coisa nenhuma.
Adoro sonhos. Adoro sonhar, seja como for, é sempre interessante, até mesmo quando deixa uma incógnita na cabeça, uma interrogação insistente. Nesse dia eu tentei retomar o sonho, pra ver se ele continuava de onde parou. Não consegui. Eu creio que é possível, difícil, mas possível. Já sonhei por três dias seguidos a mesma história que parecia estar dividida em três capítulos, sonhava um capítulo por dia.
Sonhos às vezes me assombram, às vezes me acalmam, às vezes me revelam coisas. Como o dia que eu penei pra tocar a introdução da música “Drão” do Gilberto Gil, da forma como o próprio Gil faz, e não consegui. Ao dormir, sonhei com a disposição das notas pelo braço do violão e como eu poderia tocá-las. Juro que acordei logo em seguida sem motivo algum, corri pro violão e estava certo aquilo que eu tinha sonhado. Há alguns anos, me assombravam sonhos em que eu sempre me via nas ferragens retorcidas de um carro no instante seguinte do acidente. Esse então eu sonhei muitas vezes, um assombro terrível.
Me acalma sonhar que eu estou lá na serra da Mantiqueira, na varanda lá de casa assistindo a tarde. Me acalma sonhar com crianças correndo ao meu redor fazendo bagunça. Me acalma sonhar com uma pessoa amada, da família, dos amigos, que um dia eu vou conhecer pra amar ou dos que já se foram e ainda são amados. E, ao mesmo tempo em que me estimula hiperatividade, também me acalma sonhar com o palco, com a música, seja qual for. Seja a minha banda, seja com meus companheiros de Cia, seja eu só com meu violão e a voz que me foi vestida quando vim ao mundo.
Eu creio nas mensagens dos sonhos, sem ser paranóico. Em certos momentos os sonhos te ajudam, outros eles te avisam e outros servem apenas para entreter um sono tranqüilo, ou um momento de desconexão do mundo (se estiver sonhando acordado). O sonho é o espaço livre de cada um, para ser o que quiser e fazer o que quiser. É por vezes a voz do anjo da guarda. Um instante de descobertas quando não há mais nada lhe impedindo de descobrir.
O sonho funciona como uma TV particular e independente, que sintoniza-se quando bem entende e transmite programações variadas do próprio subconsciente.
Querem um bom conselho? Sonhem!
segunda-feira, 5 de abril de 2010
A Escada - Allyson Alves
Essa escada que nunca termina.
Nunca chego lá em cima.
Essa escada é irregular,
Tem vãos e degraus altos pra pular.
Essa escada sobe e não dá pra voltar.
Todo dia uma das pernas se põe a forçar,
O piso às vezes quebra ,
E as pedras soltas escorregam.
Eu regrido dois ou três degraus.
Amanhã me ponho a escalar
E venço o dobro, e uma hora,
Dobro essa escada...
O topo não deve estar longe...
Pra mim que não desisto.
Nunca chego lá em cima.
Essa escada é irregular,
Tem vãos e degraus altos pra pular.
Essa escada sobe e não dá pra voltar.
Todo dia uma das pernas se põe a forçar,
O piso às vezes quebra ,
E as pedras soltas escorregam.
Eu regrido dois ou três degraus.
Amanhã me ponho a escalar
E venço o dobro, e uma hora,
Dobro essa escada...
O topo não deve estar longe...
Pra mim que não desisto.
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