quarta-feira, 14 de abril de 2010

Trova - Allyson Alves

Nessa temporada, tempo de temporal,
Trovejante, trovoada, sou trova.
Minha e dos outros
Como no sotaque do sul.

Troco as notas, de dó a dó, que caem.
Notas desvalorizadas, de um trovador, tosco.
Na minha trouxa levo meu fardo e minha farda.
Uma muda de roupa, papel e uma caneta falante.

Essa temporada, me fez trova.
Pesou meu fardo, e meu sotaque estranho.
Agora fadado a falar por notas valiosas
Que me fogem dos dedos... nenhum dó... que dó!

Minha farda não é verde, não é azul...
É da cor do meu humor, da cor do meu cabelo...
Que muda conforme o humor,
Conforme o sotaque, que não é do sul.

Só tenho a caneta que fala por mim.
Mas só no papel, que não guarda segredos.
Não tenho ninguém, pra nenhuma conversa.
Só minha roupa. Mas é muda e nada me diz.

Ouço uma trovoada.
Será Deus tropeçando em seu traje branco?
Será o tempo em seu sotaque trovejante
Trovando com a minha cara?

O peso do meu fardo se disfarça
Quando eu visto a minha farda
Sobre a muda de roupa sem sotaque
Da cor do meu cabelo e da cara mal-humorada.

Eu mesmo não falo nada
Sou trovador, solitário tocador de palavras.
Trocando o mal-humor em si
Por dó de outras toadas.

Tenho um papel aqui nesse mundo
Um papel, branco, bem a minha cara.
Onde vou deixar escrito, no meu sotaque,
O que eu fiz com a farda que me foi dada:

“Vesti meu fardo por cima dela,
Pintei da cor que o humor estava,
E em meio a trovoada do temporal
Passei sorrindo por essa temporada.”

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