Nessas horas eu prefiro ir embora.
Ir embora antes que as pessoas vão antes de mim.
Pra não sentir saudade do adeus que elas dão.
O meu adeus não deixa lembranças, não em mim.
O das pessoas se entalha na minha memória.
Nessas horas eu preferiria chorar por horas
Como é bem de meu costume.
Eu que nunca choro, viro uma represa,
Que quando derrama, faz um estrago fenomenal.
Mas homem não chora. É o que dizem.
E eu creio, mesmo sabendo que é mentira.
Que do choro se precisa, mesmo que se prenda, ou finja.
Nessas horas eu prefiro ir embora.
Sair de perto não olhar na cara, nem encarar os olhos
De quem está próximo de mim, em frente, em torno, em roda.
As despedidas são tristes, ainda que festivas.
Tem cheiro de volta. Mesmo que não volte.
Tem morte de companhia, mesmo que retorne.
Tem cara de pra sempre, mesmo que tanto não dure.
E a espera, tem cara de velhice. Uma espera de ancião,
Que já não tem mais pressa, que espera sem esperar que vá viver pra ver
Ou que virá a encontrar ou reencontrar.
Eu não quero tanta espera, tanto ver, e viver
E nem esperar muito pra isso tudo chegar.
Nem ver os amigos indo embora;
Nem a família indo embora;
Nem a minha cabeça sã indo embora, se perdendo,
Dando espaço pra caduquice que conheço de tão perto.
Eu realmente não espero, mas não duvido.
Já leram na minha mão: você viverá até bem velho.
Só quero tempo de criar os filhos e ver brincar os netos.
Ver frutificar as sementes que eu plantei
E ver que bons frutos serão colhidos.
Só quero tempo de completar o ciclo.
E quando perceber que já me estou passando,
Como uvas ou ameixas que se enrugam;
Nessa hora eu vou preferir ir embora.
E que sobre de mim, boas lembranças,
Alguma saudade e nenhuma tristeza.
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