segunda-feira, 26 de abril de 2010

Só - Allyson Alves

Quem me olha só
Não percebe a presença da minha companhia.
Na companhia do meu pensamento
Eu me enturmo, me divirto. Auto-suficiente.
Não. Não sou.
Quem me olha só
Não sabe ao certo como eu sou.
De onde venho pra onde vou;
Pra que lado sigo, se é verdade o que eu digo;
Se minhas palavras têm valor.
Quem me olha só?
Quem me olha e realmente me vê?
E será que me vê só?
Ou será que só me vê?
Quem me olha só
Não imagina nem o por quê.
E pra que saber? Eu não vou dizer.
Quem me olha só.
Quem me olha só?
Quem me olha... e só?
Quem só... me olha?
Pois só estando só consigo me ouvir;
Transcrever, tentando decifrar o que realmente quero dizer;
Escrevendo pra dizer, pra esquecer e pra acreditar;
Escrevendo também por escrever. Até sem querer.
E sem querer eu posso me ouvir.
Quem me olha só
Não sabe disso;
Porque só olha, não vê, não observa, não enxerga.
Quem me olha só
Eu sou um observador, um analista, um ouvinte.
Num mundo cheio de cegos e surdos, mas nunca mudos.
Pessoas que só olham e nada vêem.
Escutam, mas nada ouvem.
Mas falam, como profetas, como grandes sábios.
Quem me olha só
Me julga.
Porque julgar é humano!
Não estou só. Ainda que assim pareça. E só.
Aparece pra mim sempre alguma companhia.
Mesmo que do vento, da noite, do silêncio;
Que pra mim é música e alimento.
Quem me olha só
Esquece que eu sou um acompanhante também.
E acompanhantes não deixam de ser acompanhantes.
Mesmo que estejam desacompanhados.
Eu acompanho o andamento das minhas próprias observações.
E eu muito observo, do simples ao complexo.
Muito mais o simples. Sempre esquecido.
E que de tão simples torna-se complexa a compreensão.
Olhar é tão simples, até para o mais complexo.
Mas é complexo observar, mesmo que seja algo simples.
Eu observo quem me olha só.
E percebo que só, é quem me olha.

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