sexta-feira, 16 de abril de 2010

Café com Leite - Allyson Alves

Café com leite pra manter a minha mania.
E disfarçar a fome que sinto que comida não sacia.
Café com leite é assim o meio termo
Pra minha fome, pra minha sede, pros dias frios.
Pra preguiça de preparar o jantar.
É o meio termo daquilo tão sem graça quando só:
O café de preto forte e o leite de branco tão aguado.
O café que não deixa dormir...
E o leite, fortificante do corpo...
Café com leite me mantém.
Ou me engana quanto a isso.
Coisa de mineiro, mania mineira minha.
Que nem sou mineiro pra ter uma mania dessas.
E quem foi que descobriu que café com leite dava certo?
Só no Brasil, pra misturar preto com branco de forma tão gostosa.
Vai ver viciei. Café com leite duas vezes por dia, no mínimo.
Na verdade eu não sei se uma mistura dessas dá certo.
Pode dar problema, não só pro café, ou pro leite,
Mas pra quem ousou deliciar-se.
Dizem que dá desarranjo.
Mas a vontade é gigantesca.
Eu vejo, eu sinto o cheiro. Me consome.
E consumo desde que me entendo por gente.
E sem consumar só pra me consumir.
Eu fui criado assim, num meio tão misturado,
Mas nunca misturei pra ver no que dá.
Vira café com leite? Fica doce como tal?
E café com leite é a pessoa neutra da brincadeira.
Aquela que brinca, mas foge à regra do jogo.
Dá pra ser café com leite em tudo? Seria um bom argumento.
Eu sei que dá pra ver café com leite em tudo, em todos.
A cor bege... Às vezes puxa pro preto, ou pro branco...
O meu café com leite. O meu ritual diário, que pelo que percebi,
Não conheço bem. Nem sei como me portar.
Nem como consumir. Ou se consumir.
Um ritual de se consumar.
Café com leite que mantém a minha mania.
A minha mania mineira, de misturar as coisas.
E sempre descobrindo mais coisas pra misturar.
Mas café com leite não tem jeito, não há mistura como tal.
O cheiro do café passado. Quente.
Do leite fervido. Quente.
Da derrama: meio a meio na caneca.
O ponto de encontro: parede por todos os lados.
Caneca cúmplice de uma mistura quente e saborosa.
Mistura que dá bege. Um bege quente e brasileiro.
Misturado como todo brasileiro, que vive se misturando.
E talvez viva pra misturar e se misturar.
Café com leite, que nem o meu sotaque: quente, doce e misturado.

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