Era uma vez um lobo.
Caçador e por isso caçado.
De quem fugiam as mulheres.
De quem odiavam os homens.
Um lobo comum? Não, não era...
Parecia um lobo guará.
O magro e misterioso lobo guará.
Mas era mau, incomum lobo mau.
Um lobo sem matilha.
Com poucas garantias.
E um medo que não lhe cabia
Da noite que sempre vinha no fim do dia.
À noite era clara, um pouco menos que o dia.
Ela era astuta. Nem tão quente, mas nunca fria.
E o lobo temia ainda mais quando chovia.
Ele se tornava a presa, ou pelo menos se sentia.
Da noite calada, ele pouco sabia.
Ela o queria, se pudesse, devoraria.
A noite sempre ia, até que deixou saudade.
Transformou em desejo o medo e a maldade.
Ele uivava pedindo que ficasse.
Nada adiantava. Não se resolvia esse impasse.
E só se apertava o nó na garganta por esse enlace.
O mais alto dos uivos não fazia com que algo mudasse.
Alguns homens notaram e deixaram o lobo em paz
Escreveram sobre ele até alguns anos atrás.
Outros queriam o prazer de vê-lo morrer.
E assim foi, sem o pobre nem saber por que.
A floresta calou até a noite chegar
E quando se pôs a chorar fez tanto barulho
Que os homens sentiram falta do longínquo uivo
E viveram com a culpa de serem injustos.
Os que escreveram disseram que depois
A noite vestiu seu luto, e ficou negra.
E ficou fria e os ventos que por ela passavam
Uivavam pela memória do lobo que antes o fazia.
A noite passou a eternidade em silêncio
Em dias mais tristes e outros menos
Verteu lágrimas, luminosas estrelas
E quando o choro é forte, chamam de sereno.
Em homenagem ao lobo, a noite pendurou a lua no céu
A deixou acesa, hora branca, hora amarela.
E em devoção ao amor que os homens assassinaram
Todos os outros lobos, desde então, uivam religiosamente para ela.
2 comentários:
Tudo que move é sagrado...
Po..adorei!De verdade!
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