sexta-feira, 14 de maio de 2010

Agasalhe-se - Allyson Alves

Agasalhe-se.
O frio está chegando...
Não, não está chegando,
Ele está lá...
Eu é que vou ao encontro dele...
E na hora que ele tocar
Vai deixar a pele rubra.
É o frio que vem colorar.
Coloridos são os cachecóis,
Gorros, casacos, blusas e luvas.
O frio é colorado?
Deixa a boca roxa, e rachada.
Ressecada, como a palha.
Palha de acender fogueira.
Palha de milho, que se come no frio.
Estou indo para o frio
Pra serra, onde o frio me deixa
Cerrando os dentes
Para o queixo não bater.

Curioso frio do meio do ano.
No meio do povo se disfarça.
De noite, congela a água dentro do cano.
E se torna artístico o ato de tomar um banho.
Agasalhe-se para não tremer.
Frio que faz palavras virarem fumaça.
Curiosa fumaça, nesse frio agasalhado.
Na serra, de dentes cerrados,
De rubro rosto corado
De luvas nas mãos, que acendem a palha,
E fazem a fogueira.
Em torno da chama, mais se chegam,
Mais se chamam, e vão se chegando.
Se agasalhando com o fogo, vão conversando.
De olho no colorido do fogo,
Palavras vão se trocando, e se esfumaçando.

Por fim, o fogo se cansa. Vai embrasando.
O povo se cansa. Vai cochilando.
E o frio se chega, como se desagasalhando.
Vai nos rubrando, nos tremendo,
Quase nos empalhando.
Todos vão se levantando, tomando seu rumo,
Seu vinho, seu chocolate quente.
Tomando suas cobertas.
Tentando afasta-lo.
Mas o frio é inocente.
Se existe culpado, sou eu, que fui encontrá-lo.

Nenhum comentário: