sábado, 8 de maio de 2010

Chapéu, botas e viola - Allyson Alves

Cigarra e beija-flor,
Que aonde eu vou, cantam comigo,
Cantam alto ou baixinho.
Em uníssono, no meu tom.
No meu ritmo.

Canto eu na espera da viola.
Canto eu: aspirante a violeiro,
Sem chapéu, sem botas,
Sem morena, sem rio,
Sem serra, sem sossego.

Teimoso aprendiz de violeiro.
Na vida ao avesso: sem campo,
Sem colo, sem verde verdadeiro.
Buscando a melodia aonde não tenho
Nada daquilo que almejo.

Sei lá onde vai dar esse trem.
Trem danado de lento!
Que nunca chega onde eu quero.
E olha que não sei onde quero chegar.

Acho que nascerá a canção
Sob um pé de amora.
Da cor do amor, com cheiro doce
Que todo mundo gosta.

Vou escrever na toada:
“Quem me ama, me amora”
Trem danado de bonito!
Vou tentar... com minha viola.

Mas longe da minha terra
Tudo é cinza e sem graça.
Até o canto da cigarra.
Só o beija-flor, de madrugada
Traz notícias lá da serra.

Uma hora vou, sem nem pensar.
Até onde os pés agüentarem pisar.
Chapéu e botas pra combinar.
Viver de viola, a cantar pra ela:
“quem me ama, me amora,
Vem morena, me amorar”.

Um comentário:

Avati disse...

Grande Allyson. Então, gostei muito deste poema aqui. Além de não ter rimas óbvias, o ritmo é bastante agradável e as imagens são bem legais. Gostei do "amorar" rs
Não consegui imaginar algo específico, o que é bom, ao menos neste caso, pra mim. A palavra explode em uma série de possibilidades. É literalmente uma construção que rende "fruto". Mandou muito bem.