segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Um ano bom - Allyson Alves

Despeço-me deste ano bom.
Ainda que não tenha sido tão bom.
Apenas não me darei ao trabalho de criticá-lo.
Há quem diga que foi um bom ano,
E há quem acredite nisso.
Há quem sinta tristeza de ir-se embora dele,
E outros, como eu, que se aliviam.
Não tenho bons anos pares.
Ainda não sei o por que.
Mas no costume do hábito
De obter mais sucesso em anos ímpares,
Eu, aguardo que o próximo se inaugure,
E que da sua inauguração se faça a minha.
E que da minha re-inauguração se abram portas
E janelas que me apresentem novas trilhas.
E que das novas trilhas eu faça minha nova vida!

Obrigado pelos educadores calos de 2010.
Seja bem vindo 2011.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Tempo alado - Allyson Alves

E o tempo que se perde analisando bobagens,
Falando de coisas que só gastam o tempo?
É... Tempo veloz.
Tempo este que passa lento,
E tem por passatempo escassear-se com o tempo.
E o tempo que se luta, que se culta.
Tempo de eterna busca pra ser dono do próprio nariz,
Que está todo o tempo na nossa cara.
E tudo no seu devido tempo se embeleza, se ajusta
E se envelhece e se madura.
“Dê tempo ao tempo”.
Como se o tempo precisasse de mais tempo...
Já não basta o tanto que rouba de mim?
Tanto me toma, que mal tenho tempo
Para me atinar do furto.
E em pouco tempo, vou sendo tomado.
E depois de tanto tempo serei esquecido.
Enquanto há tempo, não me ponho calado
E nem me dou por vencido.
Ainda que a tempo de guerra com o tempo
Muitos têm lutado e tantos, tolos, perdido.
É ver que o tempo é um aliado.
Um bom e velho amigo,
Que há tempos me tem criado.
E é no vácuo desse tempo alado
Que estranho e me duvido, se,
É tão bom o tempo, pois me trouxe aqui,
Ou perigoso por não saber pra onde me tens levado?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Suspenso - Allyson Alves

Suspender a gravidade,
Fazer o planeta hibernar.
Pra que todo mundo sonhe bastante.
Pairando, leve, no ar.
E quando abrir os olhos,
Recomeçar pra ver no que vai dar.

sábado, 23 de outubro de 2010

A forma mais esdrúxula que eu encontrei para falar de Amor – Allyson Alves

O amor é um buraco.
Só que a gente vê e para pra analisar seus traços;
Alguns buracos estão cercados por faixas tracejadas,
E assim também se faz com o Amor.
E o amor é mesmo um buraco.
Um buraco consideravelmente confortável,
Do tipo que quase nunca dá vontade de sair.
E desse tipo só tem ele.
O Amor, sendo um buraco, é uma armadilha natural,
E é tão natural que capture um pobre desavisado.
Aos caçadores desse tipo de buraco, a árdua tarefa
De estar sempre disposto a cavar novos buracos,
Até encontrar um que tenha o devido espaço.
E já que não é pra falar bonito, consideremos que,
Buraco bom é buraco fundo. De que adianta um raso?
Buracos rasos não oferecem perigo,
Não amassam aros de carros, não assustam,
E não são percebidos.
Não os cercam com faixas tracejadas.
Assim é o Amor.
Bom mesmo quando é profundo.
Desses que te amassam, te marcam,
Te fazem tropeçar (ainda que quebre a cara),
Que te instigam a arriscar, aventurar-se a conhecer,
Observar, estudar, e aventurar-se além da faixa tracejada.
O Amor é um buraco muito bem disfarçado.
Um grande, profundo e camuflado buraco,
Do tipo que causa muitos e muitos estragos.
O tipo do buraco em que eu quero me estabacar.


Sem dúvida nenhuma, foi a coisa mais feia que eu já escrevi até hoje.
Mas não convenceu a me calar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mês - Allyson Alves

Esse mesmo mês...
Essas mesmas idéias que ocorrem,
E as mesmas expectativas consomem.

Esse mesmo mês...
Que envelhece e felicita,
Que interfere na vida.

Esse mesmo mês...
Que inaugura uma nova fração do futuro,
E futuro que se inaugura, por segundo, obscuro.

Esse mesmo mês...
Do dia 27, de Ação de Graças,
Do aniversário, daquele moleque.

Esse mesmo mês...
Sutil, suave, sadio e sereno,
Santo, sagrado, mês de Novembro.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pessoal e social - Allyson Alves

Quando eu me acerto, me erram;
E quando destrambelho, recriminam;
Quando eu me acho, me perdem;
E quando eu me perco, me encontram;
Quando eu amo, repelem;
E quando não amo, me fazem;
Quando quero, se afastam;
E quando eu abandono, me acolhem;
Quando eu espero, não vêm;
E quando distraído, me acontecem;
Quando eu digo que sim, não crêem;
E quando digo que não, se enganam;
Quando eu sei, não me valem;
E quando duvidoso, se inseguram;
Quando eu me apaixono, é platônico;
E quando não me apaixono, machuco;
Quando eu corro, não me alcançam;
E quando eu paro, me atropelam;
Quando eu digo que sou, desdenham;
E quando não digo, de mim esperam;
Quando eu falo, não ouvem;
E quando escrevo, não me esquecem;
Quando eu recuo, me atacam;
E quando ataco, eu venço;
Quando eu digo que vivo, eu vivo;
E quando eu digo que morro, eu morro!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Desabafo n° 4 - Allyson Alves

Venho por aqui registrar por essas pobres e mal escolhidas palavras, o que recentemente me aconteceu, e me vem acontecendo. Já que a memória recente não ajuda, recorro às teclas e tela (o que antes seria: papel e caneta).

O jeito que me senti a vontade naquela sexta feira, numa mesa de bar;
O jeito que ela sorria, olhava, e falava deslumbrada sobre as estrelas do céu das Gerais;
O jeito que a vida tem de complicar a minha vida;
O jeito que eu finalmente conheci quem eu tanto já havia conversado;
O jeito que ela tem de me divertir e carinhar;
O jeito que as coisas ficam quando volto pra cá;
O jeito tão particular de ver a vida, que nem se pode comentar com alguém;
O jeito que eu fico quando não tenho muito jeito pra ficar;
O jeito que me disseram que a minha música tocou no rádio;
O jeito bobo que a minha cara ficou;
O jeito breve de perceber que eu nem sempre sei o que fazer;
O jeito que ela tem de me confundir e complicar;
O jeito que a música tem de me levar;
O jeito que eu não conheço pra fazer todo mundo escutar;
O jeito que eu escrevo só pra me aliviar;
O jeito estranho com que tudo isso me faz funcionar.

Ainda volto qualquer dia pra todos os lugares que me fizeram feliz, ainda que neles não esteja mais ninguém.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Coração Cigano - Allyson Alves

Coração cigano que vive na trincheira
À espreita de uma nova, e inocente amoreira
Que por engano se deita com qualquer suspeita
E se aproveita do momento, e só. Não se respeita.

Coração cigano, sangrando sob essa amoreira
Usando de palavras em tom de besteira
Trocando as pernas, tocando as mãos
Sentindo frio, fome e paixão

Esse coração cigano, ao que tudo indica
De nada serve, pro ouvido ou pra escrita.
Se entrincheira em amorosas amoras
Amorenadas pelo sol sobre a amoreira

Um coração cigano, lesado e mundano,
Cansando a toa, causando o pranto
Do peito, no canto esquerdo e no pano
O que resta pra limpar o que sujou a amora.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sonâmbulo - Allyson Alves

Traço-me limites, muros, cercas
Portas e porteiras que ultrapasso.
E incerto de cada passo que teimam
Pisar meus pés, e seguir, sofro.
E louco por não saber o que fazer,
Numa das poucas vezes que isso me acontece.
Nunca existiram dúvidas no extremismo do meu ser.
Mas agora há.
Não sei lidar com isso.
O meu extremismo compreende o amar e o deixar,
Compreende o persistir e o abandonar,
Meu extremismo desconhece o duvidar.
E há, se há, um descontrole motor,
No meu coração-motor, inventor de amor,
Teimo dizer não, mas a boca teima em não falar.
E teimo em pensar são, mas insano, ouço: “vá...”.
Na discussão em que me encontro
Nem silêncio, nem canção...
Nem certeza, pra não duvidar.
Meu coração-motor, insano, sonâmbulo acordado tende
A me levar aonde passos se cansariam de tanto andar.
Na pouca frieza emocional que me resta, eu finjo acreditar
Que estou no controle, mas acho que no fim, tão só, não dá.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Aqui eu fico... - Allyson Alves

Vida de mentira,
Olhos em vertigem
Sonhos improváveis
E amores impossíveis

Casos memoráveis
Corpo incompleto
Boca sem a sua
Soluções indefiníveis

Vida abstrata
Boca sem a sua
Sonho tão utópico
Amores impossíveis

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Homem de Hoje - Allyson Alves

Um calado de muitas palavras.
E assim se disfarça o tímido.
No distinto espírito do músico,
Dorme um futuro bom pai.
Que não seja pretensão assim dizer,
Mas que pareça desejo,
Que pareça um sonho realizável.
Que as crias de agora soem longe
E sejam lidas por muitos.
E se não forem, que seja o melhor.
Esse calado de muitas palavras
Que na sua muda timidez
Não sabe o que dizer.
E na sua característica música,
Aprende a ser ouvido.
E dos viajantes sonhos,
Aprende a escrever.
No espírito-músico fica o som
Que faz a palavra de bem.
E ao som do bem cantado
Dorme e sonha sossegado
O futuro pai, o homem de hoje,
Um filho do passado.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quarto Minguante - Allyson Alves

De dentro do meu quarto
Nascem coisas que só eu conheço.
E fechado no meu quarto eu moldo,
E faço o parto de partes de mim.
Isolado nesse quarto os vários de mim,
E o lado de fora não influencia.
Pela porta ninguém vai entrar,
Na varanda, ninguém vai chamar.
Pela fresta da janela
Nem lua, nem sol.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vagando pelo meu vagão - Allyson Alves

Aqui não ancoro, não pretendo me amarrar,
Nem me enlaçar. Sem vínculos...
Raízes? Amores? Planos? Jamais...
Por mais que me venham, finjo que não.
Por mais que eu queira, teimo que não.
Mas não vou. Não vou por um motivo:
Eu vou, subir a serra, cedo ou tarde.
Vou agora, volto, mas uma hora, não mais.
E o que aqui tiver, eu vou deixar.
Mas de verdade, só a companhia da sombra não basta.
Só o que eu digo, não alimenta.
O que escrevo já não consola.
O que eu canto, mal posso escutar.
E até pro que eu me nego, se deixar eu vou.
É a verdade, que fere meu orgulho gigante, ao dizer.
Mas jamais vou admitir...
Pelo menos até eu pensar diferente.
Não me ancoro porque não sou tão bom assim,
E me lanço pra frente, pra vida.
A vida é minha, passageira, que nem trem.
Minha vida é um trem caipira com tantos vagões:
Um pros amores, paixões e musas, um pros sonhos,
Outro com uma banda de rock tocando incansavelmente,
Um bem grande pra família, um aconchegante pros amigos,
Um só pro meu gênio e outro pra mim, lá no final da fila.
E como o trem caipira a minha vida segue.
Na parada, alguns ficam, outros se chegam,
Uns perdem o trem, outros vem clandestinos.
E na estrada de ferro por onde minha vida se embala
Pode ser que meu trem pare na próxima estação, de vez.
Pode ser que a próxima seja só a minha parada, só minha.
Não me preocupo nem um pouco, eu vou.
No meu vagão solitário e sem saída, compondo,
A partir do olhar que tenho sobre as coisas da vida,
Eu me reservo, e me preparo. Me perco e me acho.
E nas gavetas eu guardo um pouco de cada Allyson.
Meu trem sobe a serra devagar.
A minha mente é mais veloz, e meu gênio, impaciente.
Mas eu espero, e trabalho, e dou um passo de cada vez.
E Deus vai me ajudar a chegar, sei que vai.
Nem que seja pra olhar da janela, do meu vagão
E acenar, sorrindo... “Adeus”!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Respeite o Beco - Allyson Alves

Estou num beco.
Não é escuro, não é sujo,
Nenhum marginal à minha espreita,
E nada que me atraia nesse beco.

Mas aqui estou sem medo do beco,
E do que me aguarda do lado de lá.
Não é o beco que eu temo.
Temo a mim, e só.

Temo o que farei com o beco,
O que deixarei quando passar.
Como vou pisar no próximo passo
E a quantas o passo vai me deixar caminhar.

Caminho no beco, meu único caminho,
Sem desvio, sem curva, sem placas, sem trilho.
Caminho só, mas não só caminho.
O deixo com marcas, marcas que me envelhecem.

E a cada marca, cada ruga, cada passo,
Cada rumo que eu traço nessa reta
O beco me respeita mais, e se estreita mais,
E me força a provar, enfim, que sou eu que mando nele.

E mando em mim, e me desobedeço.
E me vejo andando, cego do que sou
Mudo de respostas. Surdo de consciência?
De caráter sólido, firme e incontestável.

No fim do beco tem a morte a me esperar.
Mas até lá falta muito, muito pra caminhar.
E o beco se alonga todo dia, porque bem sabe
Que eu ainda tenho muita vida pra andar.

domingo, 4 de julho de 2010

As linhas tortas - Allyson Alves

Tenho escrito sim, por essas linhas tortas.
As linhas retas te levam com segurança.
Nem sempre eu acho graça...
Quero um pouco de aventura.

Ao mesmo tempo quero paz.
E percebo que é uma grande aventura
Viver em busca da paz.
Que nem sempre se percebe.

É inverno, e o frio me dói os ossos,
Resfria a face, resseca os lábios.
Estes que não beijam como antes.
Lábios meus que pouco falam.

Falo mesmo por estas letras encaixadas
Desajustadas e não direcionadas.
Apoiadas em linhas tortas...
Pra ter um gostinho de aventura.

sábado, 3 de julho de 2010

Embolada - Allyson Alves

A noite anda meio calada
E eu tão a fim de papo...
As estrelas hoje não me dizem nada
Eu me sinto como quase nada.

As minhas mãos estão cansadas,
Faço canções, acordes e notas que nunca são notadas.
As minhas palavras deixo anotadas.
E noto que nada mais faço por mim.

A noite continua calada
Assim parece que o tempo não passa.
E passo pro papel as minhas histórias.
Escritas em linhas imaginárias.

Frente ao espelho eu escondo a minha cara.
Nem tenho cara pra me encarar assim cara-a-cara.
Tenho algumas fraquezas que deixo guardadas,
E alguma destreza um pouco confusa... Embolada.

E a minha vida segue embalada ladeira acima.
Segue sangrando e cicatrizando, segue afiada.
E no fio da lâmina da minha vida, corto a escuridão.
Talvez cortando a língua dessa noite... Tão calada.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Desabafo n°3 - Allyson Alves

Ando fazendo juras de amor eterno
Pra quem quiser aproveitar qualquer palavra,
Qualquer frase ou verso que eu diga,
Que eu repita, que eu me contradiga,
Ou que me faça contrariar.

Faço sempre juras de amor eterno
Querendo que vingue, ou não querendo.
Querendo que seja mentira, que seja verdade,
Querendo fingir que não quero querer jurar.
Mas quero. E quero escrevê-las pro vento não levar.

De cá com minhas juras de amor eterno,
Que nunca chegam a nenhum lugar.
Lugar nenhum de onde não me respondem,
Mas também não me dizem pra não mais jurar.

Eu juro. Juro mesmo, amor eterno.
Juro porque é verdade, e se é verdade,
Não há pecado no meu juramento,
Nem no estranho acontecimento
Do que chamam de amar.

Amo mesmo essa vida, que me ensina.
Vida que me permite tombos e conquistas.
Vida essa companheira, que na falta de companhia,
Me permite vir às palavras, e acompanhar.

Faço dessas pobres e simples palavras
Nem um pouco rebuscadas,
Nem tão bem trabalhadas,
Me fazer jurar, que tenho comigo amor eterno.
Tenho comigo a permissão de jurar

E estou a jurar amor eterno
Pra quando vier, pra quanto vier a durar.
Eterno é o amor, enquanto se pode amar.
Eternas são as juras, enquanto ser pode jurar.
Só eu não sou eterno, pra saber se vai vingar.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Hoje - Allyson Alves

Acometido de uma certa estranheza...
Eu não tenho certeza.
Daquilo que penso, não sei o que é certo
Ou o que é besteira.
Acometido de uma certa frieza...
Parece rancor, parece tristeza,
Assim de mau humor
Me falta destreza
Pra que nessa confusão eu sincronize
O tempo da raiva, e o de respirar...
Respirar para sufoca-la.
Acometido de qualquer estupidez
Eu desconto em pobres humanos
Que pagam por estar ao meu entorno
Eu seco as palavras, e mesquinho o olhar
Eu ouço o que quero, e falo quando quero falar
Eu, sem saber por que, espero
E das pessoas, nunca se pode esperar
Porque cada um vive pra si
E por viver para si, se esquecem como se vive.
E acometido de qualquer insanidade
Eu piso em falso, derrubo alguns sonhos
E tentando me manter de pé, me seguro
Em gente que sequer conhece o próprio caminho.
Eu não sei do meu pra onde vai.
Mas sempre que posso, escolho a direção.
Acometido de alguma distração
Esqueço pra onde apontei.
E cada vez que me procuro nas trilhas
Me perco no enorme labirinto
Das pessoas que eu encontrei.

sábado, 19 de junho de 2010

Quando acontece de acontecer - Allyson Alves

“O que acontece é que sempre me acontece de algo acontecer.
Mas quando eu quero que aconteça nada me acontece,
Nem aconteço eu, nem acontece você.
E se não acontecemos, nada pode acontecer.”

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Eu tinha 16... ou 23... - Allyson Alves

Como é que vou dizer tudo que te quero dizer
Se eu nunca sei o que dizer quando vejo você?
E se eu nunca sei o que dizer quando vejo você,
Como vai saber que eu gosto de você?

E como vou gostar de você como eu quero
Se você não souber que eu gosto de você?
E como eu posso querer que me goste
Se nem isso eu consigo dizer?

E como você vai gostar-me sem saber
Que eu gosto de você, se quando eu te vejo,
Eu fico, sem querer, sempre sem saber,
O que eu digo pra você?

Resolvi escrever:

“Menina dos olhos bonitos, da pele que me encanta,
Das vezes que não vejo, imagino por onde andas.
Um dia, de surpresa, paro em frente à sua varanda
E com voz desafinada canto pra que lance as tranças.

Menina bela, de quando eu tinha 16... talvez 23...
Passa pela minha cabeça, nunca pela janela.
Mas eu fico na espera, que quando a porta estiver aberta
Numa certa primavera, você se anime a entrar.”

A Peça - Allyson Alves

“Acontece que me deu vontade de pregar um prego na peça que essa vida me prega.
Eu que não me prendo pregando moralismos e nem peco (tanto) por falsas promessas.
Se algo me presta, não empresto. Me emprego como presidente: sempre presente.
Ainda não sei se prezado ou previsível, predador ou presa... Prisioneiro do que prezo?
Previsivelmente me pego prestando atenção na peça que essa vida me prega...”.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Me apego - Allyson Alves

Me apego na fé
Quando o horizonte não alcanço com os olhos;
Quando minhas pernas tremem ao ficar de pé;
Quando meu corpo não acorda pela manhã;
E minhas palavras não tem coragem de soar.

Me apego na fé
Quando o sol parece não me aquecer;
E a água, parece não me lavar;
Quando de mim começo a esquecer;
E coisas vãs tentam me carregar.

Me apego na fé
Quando minhas mãos param de escrever;
E minha voz se cansa de cantar;
Quando tudo me parece doer;
E só o mau humor faz de mim seu lar.

Me apego na fé
Por todos os que me amam;
Pelos que em mim depositam confiança;
Pela esperança que ainda sou;
Para aqueles que até mesmo desconheço.

Me apego na fé
Por que é dela que vive o homem;
Que vem a força que já não sentia;
E o carinho do eterno abraço;
Que vem do Divino, me amparar.

Me apego na fé
Por que no desânimo do meu caminho;
Existe Alguém que nunca me deixa sozinho;
E por mais que encontre pedras, até o meu destino;
A fé me faz continuar!

Guria - Allyson Alves

Guria dos olhos que nunca me olharam;
Da pele que nunca senti o calor;
Da voz que eu nunca ouvi;
Do sorriso que nunca vi sorrir.

Guria de perto, de longe de mim.
Das idéias que faz, e das que faço de ti.
Guria das Gerais, geralmente... Por ali...
Dos versos tímidos, que aqui escrevi.

Guria das muitas palavras.
E que do simples, me pergunta, algo assim.
Das imagens que produzo, nessa mente cineasta;
Das conversas que temos, sem que a voz se faça ouvir.

Guria da face disfarçada,
E das tiradas engraçadas, e das que tiram do sério.
Das meias palavras...
E das que eu digo, sempre sincero.

Guria do olhar brilhante e do desfocado,
Que deve ser culpa da minha própria vista.
Guria que nem sei por que assim chamei,
Se de mim nada sabe... E de ti pouco sei.

domingo, 13 de junho de 2010

Havana - Allyson Alves

Havana, 16 de maio de 2010.

Olá amiga Ana, como vai? Penso que aí no Brasil, as coisas continuam fluindo bem, como sempre, mesmo que no “jeitinho brasileiro”.
Hoje, exatamente, completam-se dois anos desde que vim para Cuba. O trabalho com música aqui é muito interessante, diria fascinante, inclusive. O grupo se apresenta três vezes por semana aqui na capital, e, não fosse pelo meu espanhol fajuto, acho que sou quase um “cubano nato”. Por ironia do destino, me apelidaram de Castilho...
Estava imaginando que você iria gostar daqui. A povo tem um “Q” de brasileiro.
Um povo bem bonito, e os negros daqui não são como os negros daí. Ainda não descobri o que têm de diferente, mas a alegria deles é contagiante, até mesmo dentro das circunstâncias da política e da economia castrista. O regime não afeta o meu trabalho, nem meus estudos, o lado econômico é um pouco complexo, às vezes falta o que comprar, e onde comprar coisas simples às vezes.
Hoje acordei com saudades do Brasil, por isso resolvi escrever algumas cartas, para os amigos e parar a família. Normalmente, me sinto bem por aqui, é bem quente durante o dia e essa parte me incomoda, como incomodava ai, mas as noites são sempre musicais. Como disse, escrevi ao meus brasileiros, espero poder receber suas cartas, mesmo que nos falemos por internet, eu ficaria imensamente feliz de poder lê-los no papel, lembrando de como são suas vozes e trejeitos ao falar.
Já está tarde aqui, hoje teve apresentação do grupo (e para quem não leva jeito pra dançar salsa, eu até que estou tocando direitinho), por incrível que pareça, o cansaço está se chegando. Não vou me alongar mais nessas palavras escritas. Espero, de coração que todos estejam bem, e felizes, pretendo estar de volta para o Natal deste ano, e se for possível, rever todos vocês. A saudade me aperta o peito. Fiquem com Deus!

Um grande beijo, e abraços de óculos escuros!!

Allyson “Castilho” Alves.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Desabafo n° 2 - Allyson Alves

Ah... cansei...
Vocês me desculpem, mas eu cansei.
Eu me vejo em todo lugar fazendo inúmeras coisas.
E às vezes nada faço por mim,
E nem pelos que por mim fazem muito.
Eu escolhi o caminho das pedras.
Não sei se pago por isso,
Ou se com isso estou aprendendo...
Talvez os dois.
Mas se tudo tem seu tempo, esse é o meu.
E o descanso não faltou nem a Deus.
Eu cansei.
Preciso de ares, de verdes e de sotaques.
Preciso de paz, pra mente e corpo.
Não preciso de nada mais, só paz.
Vocês me desculpem não ser um texto bom.
Mas na falta de um ouvido amigo,
Falo aos olhos de vocês.
Por aqui eu paro.
Porque até pra mim, cansei.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Carolina - Allyson Alves

É a segunda que me aparece.
Recentemente...
Pra me assombrar?
Pra parecer mera coincidência?
É a terceira da história.
Não... É a quarta.
A primeira virou música.
Olhos verdes...
Ainda não sei por que me fascinam tanto,
Porque tanto me prendem, me iludem,
E me atraem.
E depois disso, sempre desaparecem.
Cabelos de fios dourados.
Todas têm, algumas mais, outras menos.
Algumas mais escuro, outras mais claro...
Como a última.
Ah... A última...
Contrariou a lei de Murphy,
Superou a minha timidez, duas vezes:
Me fazendo falar, e sendo mais tímida que eu.
A moça surgiu.
Numa hora improvável, num lugar improvável,
Num dia improvável e incomum,
Por uma situação improvável e incomum.
Sentou-se num lugar improvável, e não saltou do ônibus
Onde eu suspeitei que provavelmente saltasse.
E tudo isso foi extremamente incomum!
Suspeitando (e tendo quase certeza) de que
Não iria me perdoar se a deixasse ir assim,
Da mesma forma que veio, de repente,
Passei por cima da vergonha (mas não rapidamente)
E perguntei (me consumindo de vergonha):
- Você gosta de música?
E veio a resposta (tão envergonhada quanto):
- Sim, eu gosto.
Aí eu a convidei... Mas não sei se ela vai.
Queria que fosse, seria legal.
E seria incomum.
Mas é bem improvável que ela vá.
Sei mesmo é que conversamos um pouco.
Até rimos um pouco.
Duas pessoas envergonhadas conversando
Já é engraçado;
Duas pessoas envergonhadas e desconhecidas
Conversando num ônibus, de madrugada,
É muito mais engraçado.
Eram quase duas horas,
E ela saltou num ponto bem incomum
Praquele horário, praquela moça.
Ela anunciou e desceu. Os olhos dela ficaram...
Pra me assombrar talvez.
Os meus olhos a seguiram, queriam ir junto.
Ela se foi, deixou só o nome.
Que pode ser falso.
Mas não importa...
Naquela noite
Eu conheci a Carolina.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Penhascos (o homem e a fé) - Allyson Alves

As pontes nem sempre vão existir.
Às vezes é preciso descer até o fundo do penhasco e escalar a margem do outro lado pra chegar ao topo.
Isso pode ser chamado de várias formas: vencer, resistir, perseverar... Eu chamo de viver.
Escolhas existem.
Ficar do lado de cá e passar a vida imaginando como seria se tivesse ido.
Ou chegar do outro lado e pensar como seria tola a decisão de não tentar.
O homem cria seu próprio valor.
O homem é grande, se sua fé for maior que ele.
Um homem sem fé, não é nada.
A fé é a mão que ampara o homem quando ele tomba e cai ao chão.
E o homem será grande, ainda que leve incontáveis tombos... E ainda que não alcance, e pela última vez, tombe pela morte.
Ainda assim, esse homem será maior do que aquele que preferiu não continuar.
Eu chamo de fé. Alguns, de teimosia.
Talvez a teimosia em persistir e continuar, seja uma forma de fé.
E a fé faz o homem acreditar nele mesmo.
Um homem sem fé, é um homem desacreditado por si próprio.
Não é homem, não é nada.
Escolhas existem.
Um homem é grande, quando sua fé é maior que ele.
Quando não existem pontes pontas, há quem muda seu rumo e segue outro caminho.
Aquele que tem fé, e confia em si, segue em frente, e vence o penhasco.
Um homem sem fé, se desvia, passa pela vida, conhece uma das margens.
Um homem com fé traça seu caminho, conhece as duas margens. Vive.
O homem cria seu próprio valor.
Cria seu próprio caminho.
Cria seu nome e até mesmo sua fé.
Mas de que vale a fé de um homem se for desacreditada?
Não serve, não é fé verdadeira. Não existe fé, não existe homem.
Se existe fé, existe objetivo. E este será alcançado.
Um homem sem fé, segue por trilhas.
Um homem com fé constrói estradas.
Ele cria seu próprio valor.
As escolhas existem.
Mas um homem só é grande, quando sua fé é maior do que ele.

Bicho (no mato) - Allyson Alves

Bicho, no mato.
Cercado apenas por espaço.
Livre bicho, bicho solto,
Bicho do mato, bicho-grilo.

Bicho de jeito arisco.
Bicho de gíria “bicho”.
Bicho gente, bicho de pé,
Sem talento pra bicho.

Bicho de teimoso, de instinto,
De querer a intelectualidade dos bichos.
De saber sobre a vida, e vida de bicho.
No mato, longe dos “pobres de bicho”.

Bicho acanhado, me entendo com os bichos.
Me sinto avoado, que nem vôo de bicho.
Me sinto mudado, que nem muda de pêlo.
Me sinto acuado pelos “pobres de bicho”.

No mato, me sinto, me vejo, me vivo.
Me ouço, me faço o próprio bicho.
Delimito meu espaço até no grito.
Vivo do faro, da fome e do cio.

Bicho (na cidade) - Allyson Alves

Eu ando me sentindo um bicho
Dentro desse viveiro.
E nem sei por que se chama viveiro
Se não é um bom lugar pra se viver.

E meu viveiro se chama Rio.
E sendo bicho, se fosse peixe ia gostar de rio.
E mesmo que fortes fossem as correntezas,
Tudo pra mim seria tranqüilo.

O meu rio é de janeiro.
Época de verão, e de cheia.
Se fosse sapo, coacharia, chamando chuva,
Todo fim de tarde de todos os dias.

Se eu fosse sapo, seria frio,
Na água fria, de sangue frio.
Seria feio, e mal falado.
Vivendo na ironia: engolindo sapos.

E por tantos sapos mal digeridos
Eu ando assim, me sentido um bicho.
Acuado, silvestre, selvagem, arisco.
Caçado, capturado, engaiolado, no Rio.

domingo, 16 de maio de 2010

À Rosa - Allyson Alves

O meu mundo ficou rosa.
E se Rosa soubesse como meu mundo ficou...
Deixei pra trás, da roseira, os espinhos.
Vivo daqui pra frente: cor de Rosa, da cor da rosa-flor.

Rosado sorriso corado de Rosa,
Sorriso de Rosa, risado cor-de-rosa.
E se Rosa soubesse que meu mundo parou
No riscado de sua rosa, no rosado de tua flor.

Rezo à Nossa Senhora da Mística Rosa
Que proteja, a Rosa, dos espinhos da flor.
Rosa-dos-ventos me leve à Rosa
De risado riscado, de rosada cor.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Lados - Allyson Alves

Me deixa de lado
Mas aí, do seu lado.
Qualquer um,
Tanto faz o lado.
Desde que seja seu.

Lado A ou lado B.
Lá da frente.
Lado a lado.
Com seu lado.
Ou do outro lado.
Mas do lado que estiver.

Ladino ladro
Pro lado de cá.
E alado chego
No seu lado de lá.

Lá do lado do seu lado
Agora tem meu lado
Alado, ladino,
Ladrando ladainhas
Pra do seu lado ficar.

Desabafo n°1 - Allyson Alves

Não sou escritor.
Apenas conheço algumas palavras.
Penso que algumas ficam bem unidas.
Algumas fazem sentido reunidas.
Penso que não existe um sentido pra escrever,
Já que eu não sou escritor.
Também não sou poeta.
Nem sei o que me rotularia assim.
Como se reconhece um poeta?
Como se reconhece um escritor?
Eu, não sou.
Eu penso rascunhando garranchos.
Rabisco com garranchos rascunhos de pensamentos.
E só.
Escritor é quem escreve?
Ou escritor é quem sabe escrever?
Poeta é quem escreve poesia?
Ou poeta é quem percebe a poesia?
Não sou poeta.
Não sou escritor.
Eu, não sou.
Sou um oportunista.
E só.

Agasalhe-se - Allyson Alves

Agasalhe-se.
O frio está chegando...
Não, não está chegando,
Ele está lá...
Eu é que vou ao encontro dele...
E na hora que ele tocar
Vai deixar a pele rubra.
É o frio que vem colorar.
Coloridos são os cachecóis,
Gorros, casacos, blusas e luvas.
O frio é colorado?
Deixa a boca roxa, e rachada.
Ressecada, como a palha.
Palha de acender fogueira.
Palha de milho, que se come no frio.
Estou indo para o frio
Pra serra, onde o frio me deixa
Cerrando os dentes
Para o queixo não bater.

Curioso frio do meio do ano.
No meio do povo se disfarça.
De noite, congela a água dentro do cano.
E se torna artístico o ato de tomar um banho.
Agasalhe-se para não tremer.
Frio que faz palavras virarem fumaça.
Curiosa fumaça, nesse frio agasalhado.
Na serra, de dentes cerrados,
De rubro rosto corado
De luvas nas mãos, que acendem a palha,
E fazem a fogueira.
Em torno da chama, mais se chegam,
Mais se chamam, e vão se chegando.
Se agasalhando com o fogo, vão conversando.
De olho no colorido do fogo,
Palavras vão se trocando, e se esfumaçando.

Por fim, o fogo se cansa. Vai embrasando.
O povo se cansa. Vai cochilando.
E o frio se chega, como se desagasalhando.
Vai nos rubrando, nos tremendo,
Quase nos empalhando.
Todos vão se levantando, tomando seu rumo,
Seu vinho, seu chocolate quente.
Tomando suas cobertas.
Tentando afasta-lo.
Mas o frio é inocente.
Se existe culpado, sou eu, que fui encontrá-lo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Estrada de chão - Allyson Alves

Pois pra mim vai ser
Aquela estrada sempre de chão.
Vai ser sempre sossegado.
Vou ser sempre criança.
Vai ter sempre futebol no fim da tarde.
Sempre vão me convidar pra entrar.
Sempre vão ter o que me perguntar.
Pois pra mim sempre vai ser
Meu lugar de salvação.
Sempre vão me encarar nos lugares.
Sempre vão cumprimentar,
Me conhecendo ou não.
Sempre vão querer ajudar.
E vão rir do meu falar.
Sempre vão me abrigar,
Se por acaso me pegar distraído,
Uma chuva de verão.
E sempre vão me conversar
Pra saber coisas de cá.
Eu converso porque é bom.
Pois pra mim só interessam as coisas de lá.
Pra mim sempre terão vacas,
Soltas na estrada, depois da curva.
Sempre terá porteira.
Sempre terá oração na capela,
Só não me lembro o dia-feira.
Sempre terá algo a me intrigar.
Um mato pra eu adentrar,
Uma trilha nova pra caminhar,
Um bicho novo pra conhecer,
Ou só parar e observar.
Pra mim sempre será “o lugar”.
Sempre serei feliz, do lado de lá.
Depois do alto da serra.
Onde sempre será frio.
Onde só se dorme de coberta.
Pois pra mim, a porteira vai estar
Sempre aberta.
Me chamando de menino.
Do jeito que eu era
Quando resolvi me “amineirar”.

sábado, 8 de maio de 2010

Casa de forro - Allyson Alves

Casa de forro.
Cama de cobertor.
Rede na varanda.
Cachorro companheiro.
Estrada pra ver.
Passarinho pra alegrar.
Vizinho pra conversar.
O sol que se pára pra olhar.
Verde, por todos os lados.
Vacas, mulas, cavalos, porco,
Galinha, inseto, canto de sapos.
Frio de bater o queixo.
Sol de queimar a pele.
Água de mina.
Cheiro de mato.
De leite fervido,
E café passado.
Bochechas rosadas.
Sotaque de lá.
Molecada solta.
Liberdade que se estranha.
Paz que te invade.
Pôr do sol.
Algumas luzes se acendem.
Barulho do vento.
Cantoria de bêbados.
E fecha-se o bar.
Silencio que quase há
Mas o grilo não deixa.
De longe se ouve o rio
Chamando pra dentro.
Pra casa de forro.
Pro sono que vem.
Descansar pro amanhã.

Chapéu, botas e viola - Allyson Alves

Cigarra e beija-flor,
Que aonde eu vou, cantam comigo,
Cantam alto ou baixinho.
Em uníssono, no meu tom.
No meu ritmo.

Canto eu na espera da viola.
Canto eu: aspirante a violeiro,
Sem chapéu, sem botas,
Sem morena, sem rio,
Sem serra, sem sossego.

Teimoso aprendiz de violeiro.
Na vida ao avesso: sem campo,
Sem colo, sem verde verdadeiro.
Buscando a melodia aonde não tenho
Nada daquilo que almejo.

Sei lá onde vai dar esse trem.
Trem danado de lento!
Que nunca chega onde eu quero.
E olha que não sei onde quero chegar.

Acho que nascerá a canção
Sob um pé de amora.
Da cor do amor, com cheiro doce
Que todo mundo gosta.

Vou escrever na toada:
“Quem me ama, me amora”
Trem danado de bonito!
Vou tentar... com minha viola.

Mas longe da minha terra
Tudo é cinza e sem graça.
Até o canto da cigarra.
Só o beija-flor, de madrugada
Traz notícias lá da serra.

Uma hora vou, sem nem pensar.
Até onde os pés agüentarem pisar.
Chapéu e botas pra combinar.
Viver de viola, a cantar pra ela:
“quem me ama, me amora,
Vem morena, me amorar”.

Alguns - Allyson Alves

Amor de fé
Amor divino
Amor de gente
Amor de cheiro
Amor de olhar
Amor de gosto
Amor de sangue
Amor de afeto
Amor de carne
Amor de risco
Amor de paz
Amor de guerra
Amor de música
Amor de livro
Amor de arte
Amor secreto
Amor declarado
Amor de mentira
Amor enganado
Amor maltratado
Amor descarado
Amor descoberto
Amor envergonhado
Amor impossível
Amor desligado
Amor forte
Amor fraco
Amor calado
Amor falado
Amor tateado
Amor tatuado
Amor depravado
Amor romantizado
Amor inventado
Amor achado
Amor dorminhoco
Amor acordado
Amor cansado
Amor guerreiro
Amor poetizado
Amor concreto
Amor abstrato
Amor de colégio
Amor desastrado
Amor engraçado
Amor cantado
Amor aventureiro
Amor aventurado
Amor bem amado

Pensando nela - Allyson Alves

Eu fico aqui pensando nela.
Pensando no que fazer com ela
E no que ela faria comigo
Se eu não o fizesse.

Eu fico aqui, pensando nela também,
E se devo fazer com ela.
Se deixo só ela fazer comigo.
Ou se façamos os dois, em sintonia.

Eu fico aqui o dia todo pensando nela,
E são tantas “elas”, e tantas delas.
E tantas coisas pra pensar sobre ela,
E tantas outras de todas elas.

Eu também penso com ela.
Como seria sem ela pra pensar.
E sem elas pra me fazerem pensar,
E n’algum momento me fazer agir.

Penso em agir sobre elas
Pra ver a reação em mim.
E a reação que virá pra mim.
Virá daquilo que eu penso.

Ela que vem na minha direção.
Penso eu que sim, é ela.
E todas juntas, pra me fazer agir
Em uma de cada vez.

Eu penso nela, e fico a pensar,
Nas que pensam, e as que não.
Nas que só eu posso agir,
E nas que agirão comigo!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mantica - Allyson Alves

Os silvestres:

Sussuarana, lobo guará, tatu canastra,
Jaguatirica, jacarambeba, ouriço,
Gambá de orelha preta, tizil, pardal
Sabiá da praia, sabiá de peito laranja,
Anu preto, e branco, trinca-ferro,
Tilápia, carpa, truta, tambaqui,
Sagüi, serelepe, macaco bugio,
Gavião carcará, bicho-pau, calango,
Aranha caranguejeira e armadeira,
Cobra coral, cascavel, urutu, jararaca,
Cobra d’água, quebra-quebra, paca,
Onça pintada, cachorro do mato, lebre,
Coelho do mato, canário da terra, saíra,
Martim pescador, peixe barrigudinho,
Mandaçaia, marimbondo cavalo, mirim,
Arapuá, mutuca, cigarra, sapo, perereca,
Bezouro, rã, juriti, jacu, siriema, formiga,
Maritaca, grilo, gafanhoto, tico-tico,
Rolinha, sanhaço, socó, garça, saracura,
Lontra, preá, beija-flor, galo do campo,
Capivara, morcego, andorinha, abelha.

O habitat:

Os rios, as montanhas da serra, a terra,
O frio sempre presente, o sol forte,
O céu azul, a chuva densa de verão,
O tempo lento, a altitude, a umidade,
A seca, a liberdade.

O Mato:

Araucárias, samambaiaçu, cedros, candeia,
Jacarandá, guatambu, pau de vinho, bambu,
Capim braquiária, capim-gordura, eucalipto.

Os Domésticos:

Cláudio Roberto (Beto);
João Maurício (Maurício);
Paquita;
Moleca;
Pretinha.
(E minhas lembranças aos que se foram por morte ou mudança: Chalana, Pancho, Barão, Buxexão, Carência, Biscoita (papa-léguas), Bandeira, Bob e Tutu).

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Escritor - Allyson Alves

A minha fé continua intacta.
Mesmo que por minha causa,
E apenas minha culpa,
Ela esteja manchada.
A minha unha está quebrada,
Minha cara enrugada,
Minha vista opaca,
Minha voz cansada.
Levo entre os dentes
Uma faca amolada.
E motivos para usá-la.
Eu já perdi o fio da meada,
Já dormi no meio fio,
E senti o frio da madrugada.
Sozinho, na calçada.
Já delirei por elas.
Já me iludi por elas.
Já me danei por elas.
Eu sou bobo por ainda existir
E ser forte quando ninguém acredita.
Pra isso me inventaram.
Pra fazê-los felizes.
Tantos amantes, amados e calados,
Correspondidos ou não, safados, sinceros,
Cinematográficos e românticos, carnais,
Ou somente apaixonados.
Que me carregam no peito,
Mesmo que me neguem, mesmo assim.
Eu me faço brotar, mesmo que quase matado.
Me faço enramar, mesmo que podado.
E existo mesmo se arrancado.
Sempre me falta um pedaço
Que todos se enganam em procurar.
E sempre se pensa achar;
E sempre acham errado.
Sou infinito, mesmo que não dure.
Sou invisível e completo-me.
Não me procure a outra parte,
Se deixe encontrar, apenas;
E quando assim for, reconheça.
Eu sou doce, palpitante, acolhedor.
Eu sou tão mal falado, sempre culpado.
Sou tão usado, e abusado. Sim, sou abusado!
Inclassificável no certo ou errado.
Estou além disso.
Dou prazer, e também dor.
Tenho também meu preço,
Mas não podem me comprar.
Podem até fingir me ter,
Mas não podem me fazer fingir...
Nem me obrigar a nada,
Nem me matar, nunca poderão!
Sou essência, hospedeiro.
Morando de favor nos corações,
Sem pedir licença nem opiniões.
Eu sei que sou confuso,
E daí, me inventam falsas verdades.
Eu sou necessário, mesmo que me desprezem.
Eu sou real, mesmo que não acreditem.
Sou como quiserem, de qualquer cor,
Tenho variações no sabor,
Me dizem: irmão bom do ódio,
Mas não guardo rancor.
Sou beijo, abraço, canção e flor.
Sou luz, amasso, afeto, calor.
Sou filho, filha, pai e mãe, avó e avô,
Amigo, chama sem pavio.
Dos sentimentos humanos
Sou o grande senhor, síndico,
Presidente, senhorio, governador.
Sou espinho, sou sadio, infinito.
Eterno moderador.
Existo no peito do ferido
E de quem o fere.
Sou de doma impossível;
Atrevido, alma de moleque!
A quem nunca cabe a conjugação “passou”.
Simplório só de nome...
Assinando romances como um grande escritor...
Ao pé da página, rubrico: Amor.

Do mirante que eu tenho - Allyson Alves

Por que não falar de amor?
Por que não falar da água?
Das flores que me aparecem?
Por que nessa longa estrada
Às vezes passo, às vezes paro,
Às vezes sou só passado?

Por que não falar que amou?
Por que não dar gargalhada
Por que se amou sem sentido?
Das flores que me aparecem
Não sei se rego, não sei se podo,
Não sei se crescem.

Por que não falar de tudo
Que pensamos em sigilo?
Por que dizem “não se deve”?
Por que não falar de nós?
Por que não falar do dia, do céu,
Da vida, da maravilha da sua vinda?

Por que caem tantas pétalas
Do amor que tenho guardado?
Por que a água não me leva?
Me lava mas deixa sempre
Um pouco de dor, um pouco de paz,
Um tempo de espera.

Por que não falar dos sonhos?
Das noites que durmo tarde?
Das horas que perdi dormindo?
Por que lá da catedral eu ouço sinos?
E eles, santos, sólidos, perturbam o sono
E sei que nunca estão me ouvindo.

Por que tanta gente amarga?
Por que não falar às claras?
Por que sempre dói os tímpanos?
Ouvir que a vida é grávida de mil verdades,
E novidades duras, boas, fracas, sólidas,
Como som de sinos.

Por que dá saudade, de dizer, de ouvir?
Por que dá saudade, de rever, de sentir?
Por que a saudade, tira o sono, me faz isso?
Por que dá saudade de alguém que eu não tenho?
Por que da saudade de quem desconheço?
Por que há saudade? Por que há saudade? Por que há saudade?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Companhia - Allyson Alves

A voz que canta palavras
Valeu-me pela madrugada
Mas a noite terminou fria.
Sozinho no rumo de casa
Aonde olhava ela não estava
E eu ainda me despedia.

Os olhos que me encaravam
Desviam os meus, sem graça
É a vergonha que me aparece
Tão perto, não te tocava
Havia um muro, uma longa estrada
Ela é uma armadilha.

Por vezes eu ri, do nada
Por vezes poupei palavras
Ou coisas que envaidecem
Amigos, na madrugada, se acham,
Falam, ouvem, vivem e se perdem
Nem sempre se percebem

A noite ficou mais clara
O dia pesou na cara
Com traços que me envelhecem
E penso que minhas cartas nunca chegam
Nunca dizem nada, nunca valem
São respostas pra quem as escreve.

No fim todos se separam
Retornam às suas casas
Sentem vazio e alívio
A voz que me cantou palavras
Ficou guardada na memória
Na história da melhor companhia.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Só - Allyson Alves

Quem me olha só
Não percebe a presença da minha companhia.
Na companhia do meu pensamento
Eu me enturmo, me divirto. Auto-suficiente.
Não. Não sou.
Quem me olha só
Não sabe ao certo como eu sou.
De onde venho pra onde vou;
Pra que lado sigo, se é verdade o que eu digo;
Se minhas palavras têm valor.
Quem me olha só?
Quem me olha e realmente me vê?
E será que me vê só?
Ou será que só me vê?
Quem me olha só
Não imagina nem o por quê.
E pra que saber? Eu não vou dizer.
Quem me olha só.
Quem me olha só?
Quem me olha... e só?
Quem só... me olha?
Pois só estando só consigo me ouvir;
Transcrever, tentando decifrar o que realmente quero dizer;
Escrevendo pra dizer, pra esquecer e pra acreditar;
Escrevendo também por escrever. Até sem querer.
E sem querer eu posso me ouvir.
Quem me olha só
Não sabe disso;
Porque só olha, não vê, não observa, não enxerga.
Quem me olha só
Eu sou um observador, um analista, um ouvinte.
Num mundo cheio de cegos e surdos, mas nunca mudos.
Pessoas que só olham e nada vêem.
Escutam, mas nada ouvem.
Mas falam, como profetas, como grandes sábios.
Quem me olha só
Me julga.
Porque julgar é humano!
Não estou só. Ainda que assim pareça. E só.
Aparece pra mim sempre alguma companhia.
Mesmo que do vento, da noite, do silêncio;
Que pra mim é música e alimento.
Quem me olha só
Esquece que eu sou um acompanhante também.
E acompanhantes não deixam de ser acompanhantes.
Mesmo que estejam desacompanhados.
Eu acompanho o andamento das minhas próprias observações.
E eu muito observo, do simples ao complexo.
Muito mais o simples. Sempre esquecido.
E que de tão simples torna-se complexa a compreensão.
Olhar é tão simples, até para o mais complexo.
Mas é complexo observar, mesmo que seja algo simples.
Eu observo quem me olha só.
E percebo que só, é quem me olha.

Enquanto Aguardava - Allyson Alves

Ultimamente me sinto atado.
Caçando palavras pros meus textos não cantados.
Tenho sido exagerado, sem espelho,
Como se o conserto desse muito trabalho.

Ando meio escravo.
Explorado por atos desastrados.
Tenho causado muito estrago.
Fingindo disfarço, mas é estrago.

Ultimamente me sinto atacado por todos os lados.
Me defendendo só no imaginário.
Padecendo no vento, no tempo, solitário.
Me propagando como som, no vácuo.
Me desligando, dormindo em pé... sentado.

Ultimamente caço o ponto exato
Entre eu e o equilíbrio desastrado
Que um dia encontro n’algum texto...
Sublinhado... de caneta preta, num riscado falhado.
Como é a vida... falhada... falível... cheia de buracos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Entendi o Adão - Allyson Alves

Agora pequei...
E coloquei meu nome na lista negra de São Pedro.
Se é que já não estava lá.
Pra aumentar minha fama de mau.
Não sei se foi por mal... mas pequei.
E não foi a primeira vez... nem será a última...
Nessa vida mundana que eu escolhi.
Tenho comigo a minha fé, que não é pouca,
Mas a vida é mundana. Às vezes imunda.
Não é o caso. Acho que não...
Ainda não estou imerso nessa atmosfera.
Ainda respiro um pouco de ar puro.
Pelo menos em vida, não sentirei cheiro de enxofre.
E nem vou ser torturado por toda a eternidade
Por algum chifrudo de tridente na mão.
E não vou, porque essa vida mundana não dura pra sempre.
E agora? Graças a Deus?
Ele me deu livre arbítrio, mesmo que eu não tenha escolha.
Mas não quero pensar no inferno... Nem no paraíso.
Um parece ser bom demais e o outro o oposto.
Prefiro o limbo então. Seria o meio termo? A Terra?
Sei lá, mas meu nome deve estar na lista negra agora...
Como um dos milhões de quebradores das 10 regras divinas
Escritas pelo barbudo Moisés... Cutuquei onça com vara curta.
Ainda tenho a minha fé. Que não vai sumir nunca...
E talvez seja a única forma de eu me redimir.
Mas nessa vida mundana, de ser um músico mundano,
Cheio de idéias mundanas e pensamentos imundos
Vai ser um pouco trabalhoso.
Que se dane. O trabalho dignifica o homem, não é o que dizem?
É Deus... Um dia a gente vai ficar cara a cara.
E o nosso papo não vai ser tão curto, temos perguntas um para o outro.
E se no final do meu julgamento a coisa estiver feia pro meu lado,
Faço que nem o João Grilo, e já vou com a poesia decorada,
E me agarro na barra da saia de Nossa Senhora.
Cruzo os dedos, faço uma prece sincera, e peço pelo Seu amor
Que tenha piedade da minha pobre alma.
No fundo, no fundo, nós dois sabemos que eu não sou tão ruim assim.
Penso até que ainda tenho jeito, salvação, conserto... Perdão.
Castigue-me com uns puxões de orelha do meu próprio Anjo da Guarda;
A quem devo desculpas pelas inúmeras situações em que lhe dei trabalho.
Enfim, eu pequei. E talvez tenha pecado mais uma vez nesse texto,
Quase que dizendo a Deus o que fazer comigo no dia do meu juízo.
Deus sabe o que faz. Teimoso sou eu. Torto, mundano, errado.
Pobre diabo... Ops... Melhor não falar, vai que o banidão se identifica
E força uma barra pra me levar pra baixo. Deus me livre! Odeio calor.
Que o Todo Poderoso perdoe a minha sinceridade, pois,
Me arrependo só em parte, daquilo que na minha cruz se somou.

sábado, 17 de abril de 2010

Lamento (ainda que suspeito) - Allyson Alves

Não dá pra ser bom em todo momento,
Nem confortar todo sentimento,
Nem demonstrar tudo que se é por dentro.

Lamento, mas seria um grande veneno
Fingir desconhecer o mandamento
E plantar desgraça e sofrimento.

Sei o que se passa, e nunca escondemos!
Que se disfarça na graça, entre os desatentos
Que não vêem o que há. E assim torcemos.

Não dá pra fingir, e às vezes esquecemos.
Que ninguém saiba. O perigo que não vemos.
Que se entranha a cada palavra, no silencio do que lemos.

Lamento. Pra ti, é tudo que tenho.
Longe da vontade do que sozinho desenho,
Na cumplicidade escondida do meu pensamento.

No oceano salgado que me inundou o peito
Tento afogar o que há. Pra salvar o que respeito.
E deixar que sucumba, suavemente, num espaço estreito.

Desculpe a minha falta de jeito
De falar e escrever nesse entremeio.
Sei de tudo que existe e talvez não deva ser feito.

Lamento. Por eu ser esse sujeito.
Que isso te fez. Se fará mais, já não creio,
Além de versos controversos e olhares cínicos, suspeitos.

Saudade - Allyson Alves

Nessas horas eu prefiro ir embora.
Ir embora antes que as pessoas vão antes de mim.
Pra não sentir saudade do adeus que elas dão.
O meu adeus não deixa lembranças, não em mim.
O das pessoas se entalha na minha memória.
Nessas horas eu preferiria chorar por horas
Como é bem de meu costume.
Eu que nunca choro, viro uma represa,
Que quando derrama, faz um estrago fenomenal.
Mas homem não chora. É o que dizem.
E eu creio, mesmo sabendo que é mentira.
Que do choro se precisa, mesmo que se prenda, ou finja.
Nessas horas eu prefiro ir embora.
Sair de perto não olhar na cara, nem encarar os olhos
De quem está próximo de mim, em frente, em torno, em roda.
As despedidas são tristes, ainda que festivas.
Tem cheiro de volta. Mesmo que não volte.
Tem morte de companhia, mesmo que retorne.
Tem cara de pra sempre, mesmo que tanto não dure.
E a espera, tem cara de velhice. Uma espera de ancião,
Que já não tem mais pressa, que espera sem esperar que vá viver pra ver
Ou que virá a encontrar ou reencontrar.
Eu não quero tanta espera, tanto ver, e viver
E nem esperar muito pra isso tudo chegar.
Nem ver os amigos indo embora;
Nem a família indo embora;
Nem a minha cabeça sã indo embora, se perdendo,
Dando espaço pra caduquice que conheço de tão perto.
Eu realmente não espero, mas não duvido.
Já leram na minha mão: você viverá até bem velho.
Só quero tempo de criar os filhos e ver brincar os netos.
Ver frutificar as sementes que eu plantei
E ver que bons frutos serão colhidos.
Só quero tempo de completar o ciclo.
E quando perceber que já me estou passando,
Como uvas ou ameixas que se enrugam;
Nessa hora eu vou preferir ir embora.
E que sobre de mim, boas lembranças,
Alguma saudade e nenhuma tristeza.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Café com Leite - Allyson Alves

Café com leite pra manter a minha mania.
E disfarçar a fome que sinto que comida não sacia.
Café com leite é assim o meio termo
Pra minha fome, pra minha sede, pros dias frios.
Pra preguiça de preparar o jantar.
É o meio termo daquilo tão sem graça quando só:
O café de preto forte e o leite de branco tão aguado.
O café que não deixa dormir...
E o leite, fortificante do corpo...
Café com leite me mantém.
Ou me engana quanto a isso.
Coisa de mineiro, mania mineira minha.
Que nem sou mineiro pra ter uma mania dessas.
E quem foi que descobriu que café com leite dava certo?
Só no Brasil, pra misturar preto com branco de forma tão gostosa.
Vai ver viciei. Café com leite duas vezes por dia, no mínimo.
Na verdade eu não sei se uma mistura dessas dá certo.
Pode dar problema, não só pro café, ou pro leite,
Mas pra quem ousou deliciar-se.
Dizem que dá desarranjo.
Mas a vontade é gigantesca.
Eu vejo, eu sinto o cheiro. Me consome.
E consumo desde que me entendo por gente.
E sem consumar só pra me consumir.
Eu fui criado assim, num meio tão misturado,
Mas nunca misturei pra ver no que dá.
Vira café com leite? Fica doce como tal?
E café com leite é a pessoa neutra da brincadeira.
Aquela que brinca, mas foge à regra do jogo.
Dá pra ser café com leite em tudo? Seria um bom argumento.
Eu sei que dá pra ver café com leite em tudo, em todos.
A cor bege... Às vezes puxa pro preto, ou pro branco...
O meu café com leite. O meu ritual diário, que pelo que percebi,
Não conheço bem. Nem sei como me portar.
Nem como consumir. Ou se consumir.
Um ritual de se consumar.
Café com leite que mantém a minha mania.
A minha mania mineira, de misturar as coisas.
E sempre descobrindo mais coisas pra misturar.
Mas café com leite não tem jeito, não há mistura como tal.
O cheiro do café passado. Quente.
Do leite fervido. Quente.
Da derrama: meio a meio na caneca.
O ponto de encontro: parede por todos os lados.
Caneca cúmplice de uma mistura quente e saborosa.
Mistura que dá bege. Um bege quente e brasileiro.
Misturado como todo brasileiro, que vive se misturando.
E talvez viva pra misturar e se misturar.
Café com leite, que nem o meu sotaque: quente, doce e misturado.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O lado ruim - Allyson Alves

Eu sou ruim, amargo, sisudo,
Rabugento, velho, mal-humorado.
Genioso, teimoso, orgulhoso,
Irritante, impulsivo e apagado.

Sou metódico, chato, irritado,
Ignorante, impaciente, desligado.
Branco azedo, pálido, magro,
Pobre, feio e sem papo.

Eu sou falante, tímido, ranzinza,
Bobo, sem sal, sem graça, sem nada.
Baixo, estranho, estúpido,
Egocêntrico, frio e dramático.

Sou pervertido, cínico, sarcástico,
Grosso, irônico, insuportável.
Explícito, sincero, inexato,
Inútil, introvertido e rústico.

E ainda assim... Por que?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Trova - Allyson Alves

Nessa temporada, tempo de temporal,
Trovejante, trovoada, sou trova.
Minha e dos outros
Como no sotaque do sul.

Troco as notas, de dó a dó, que caem.
Notas desvalorizadas, de um trovador, tosco.
Na minha trouxa levo meu fardo e minha farda.
Uma muda de roupa, papel e uma caneta falante.

Essa temporada, me fez trova.
Pesou meu fardo, e meu sotaque estranho.
Agora fadado a falar por notas valiosas
Que me fogem dos dedos... nenhum dó... que dó!

Minha farda não é verde, não é azul...
É da cor do meu humor, da cor do meu cabelo...
Que muda conforme o humor,
Conforme o sotaque, que não é do sul.

Só tenho a caneta que fala por mim.
Mas só no papel, que não guarda segredos.
Não tenho ninguém, pra nenhuma conversa.
Só minha roupa. Mas é muda e nada me diz.

Ouço uma trovoada.
Será Deus tropeçando em seu traje branco?
Será o tempo em seu sotaque trovejante
Trovando com a minha cara?

O peso do meu fardo se disfarça
Quando eu visto a minha farda
Sobre a muda de roupa sem sotaque
Da cor do meu cabelo e da cara mal-humorada.

Eu mesmo não falo nada
Sou trovador, solitário tocador de palavras.
Trocando o mal-humor em si
Por dó de outras toadas.

Tenho um papel aqui nesse mundo
Um papel, branco, bem a minha cara.
Onde vou deixar escrito, no meu sotaque,
O que eu fiz com a farda que me foi dada:

“Vesti meu fardo por cima dela,
Pintei da cor que o humor estava,
E em meio a trovoada do temporal
Passei sorrindo por essa temporada.”

terça-feira, 13 de abril de 2010

A lenda do Lobo e sua amada Noite - Allyson Alves

Era uma vez um lobo.
Caçador e por isso caçado.
De quem fugiam as mulheres.
De quem odiavam os homens.

Um lobo comum? Não, não era...
Parecia um lobo guará.
O magro e misterioso lobo guará.
Mas era mau, incomum lobo mau.

Um lobo sem matilha.
Com poucas garantias.
E um medo que não lhe cabia
Da noite que sempre vinha no fim do dia.

À noite era clara, um pouco menos que o dia.
Ela era astuta. Nem tão quente, mas nunca fria.
E o lobo temia ainda mais quando chovia.
Ele se tornava a presa, ou pelo menos se sentia.

Da noite calada, ele pouco sabia.
Ela o queria, se pudesse, devoraria.
A noite sempre ia, até que deixou saudade.
Transformou em desejo o medo e a maldade.

Ele uivava pedindo que ficasse.
Nada adiantava. Não se resolvia esse impasse.
E só se apertava o nó na garganta por esse enlace.
O mais alto dos uivos não fazia com que algo mudasse.

Alguns homens notaram e deixaram o lobo em paz
Escreveram sobre ele até alguns anos atrás.
Outros queriam o prazer de vê-lo morrer.
E assim foi, sem o pobre nem saber por que.

A floresta calou até a noite chegar
E quando se pôs a chorar fez tanto barulho
Que os homens sentiram falta do longínquo uivo
E viveram com a culpa de serem injustos.

Os que escreveram disseram que depois
A noite vestiu seu luto, e ficou negra.
E ficou fria e os ventos que por ela passavam
Uivavam pela memória do lobo que antes o fazia.

A noite passou a eternidade em silêncio
Em dias mais tristes e outros menos
Verteu lágrimas, luminosas estrelas
E quando o choro é forte, chamam de sereno.

Em homenagem ao lobo, a noite pendurou a lua no céu
A deixou acesa, hora branca, hora amarela.
E em devoção ao amor que os homens assassinaram
Todos os outros lobos, desde então, uivam religiosamente para ela.

Caríssima - Allyson Alves

Nego-te meu amor, porque dele não precisas;
Nego-te o beijo, pois culparia o resto da vida;
Nego-te outro olhar, pra que estragos não causem;
Nego-te o acordo, o que é natural de mim;

Dou-te a mão, se só ela quiseres;
Dou-te atenção, sempre que precisares;
Dou-te carinho, se carente um dia ficares;
Dou-te paz, se assim desejares;

Nego-lhe o perto, pois de longe já me vês;
Nego-lhe matar, a fome do que escreves;
Nego-lhe a face, minha, que desconheces;
Nego-lhe por bem, tudo o que de mim duvidas;

Dou-te um sopro de calor, se frio sentires;
Dou-te raiva e um tremendo temor, se assim for;
Dou-te quase nada, pelo bem do que bem sabes;
Dou-te o que sempre sou: nada além de paixão;

Nego-lhe o bem de fazer tua vontade;
Nego-lhe as respostas, reais, mal disfarçadas;
Nego-lhe também, pelo vício prazeroso de negar;
Nego-lhe o bem que te enganas ao imaginar;

Dou-te coragem, mas não sei se percebes;
Dou-te verdades que não ouves ou não conheces;
Dou-te liberdade, porque sei que envaidece;
Dou-te a escolha, que não me cabe, que não me deves.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ando meio nublado - Allyson Alves

O que temer?
Talvez o problema seja o medo.
Talvez esteja o medo funcionando em mim
Como bom senso, me segurando,
Me impedindo de fazer besteira...
Será que é besteira?
Uma incrível e boa besteira...
Vai ver eu tenho medo.
Tenho medo dessa nuvem carregada.
Aonde eu vou ela vai, onde eu estou ela está.
Às vezes ela chove.
Às vezes deixa escapar luz. Um sorriso.
O que seria de um homem sem medo?
Perderia a razão?
Mas a razão também se perde, mesmo quando tememos.
E o que temer?
Temer o homem? Temer a escolha?
Temer o assombro de pensar em não temer.
E como seria sem medo?
Sem a força invisível me amarrando o corpo e a boca
Enquanto a mente viaja solta, e distraída deixa
Escapolir algumas palavras?
Vai ver o medo é só da nuvem, negra e carregada.
Que quando chove, eu finjo que não molha.
E o medo que dá, se ela descobrir e resolver virar temporal...
Do jeito que está às vezes me inunda.
Eu finjo que bóio, mas a mente mergulha.
E o que temer? A chuva? O temporal?
Ou o tempo passar e o sol voltar a brilhar?
Eu durmo sem saber se amanhã vai chover.
Será que vai? Vai chover em mim?
E o que temer? Eu sou livre! Eu sou.
Livre pra andar na chuva,
Encarando a nuvem negra cara a cara, carregada, irritada,
E desejando chover, desejando me molhar.
Uma hora o sol voltará a brilhar.
Esse tempo nublado nunca dura pra sempre.
Tenho até medo dessa confusão,
Já não sei ao certo qual é a real estação.
Por bem ou por mal, espero sem medo o amanhã chegar.
Mas só de pensar no clima, olha o medo que dá!
Eu penso bastante nesse clima... O tempo anda meio incerto.
E o medo não é bem de nublar.
Amanhã vai nublar... talvez chova... será?

Na mesa do bar - Allyson Alves

Noites especiais
São recheadas de pessoas especiais.
Vivendo momentos especiais.
Recheados de histórias especiais,
Palavras especiais,
Recheadas de segredos especiais.
Olhares especiais
Com mensagens especiais,
Em direções especiais.
As implicâncias são especiais,
Únicas, distintas e dissimuladas.
Forçadamente formadas.
Essa mesa de bar se torna especial.
Um templo da celebração de amizades especiais
Entre pessoas, que por esse momento contemplam,
Sem saber, o que é realmente especial.
A vida é especial.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sonhar é preciso, porém, impreciso. - Allyson Alves

Tenho cá meus motivos pra pensar que algumas coisas nessa vida têm nexo, outras não fazem o menor sentido. Tive um sonho estranho em que numa feliz festa de despedida pra mim, onde todos os meus amigos estavam reunidos, uma guria que eu nunca vi pessoalmente me chega pra se despedir. Aí o sonho acabou.

Esse negócio de interpretar sonhos ainda está além da minha capacidade de compreensão. Que festa de despedida? Por qual motivo? E por que uma pessoa que eu só conheço virtualmente me apareceu? O que ela representava? Andei por aí perguntando, e até que as opiniões acabaram se cruzando em determinados aspectos. Mas não se fez menos intrigante, nem menos incômodo e preocupante.

Sinceramente eu prefiro sonhar acordado em determinados momentos. Pelo menos quando sonho acordado, tenho a impressão de que sou eu que escolho e encaminho o sonho. Mas talvez seja só impressão, porque às vezes não encaminho e nem escolho coisa nenhuma.

Adoro sonhos. Adoro sonhar, seja como for, é sempre interessante, até mesmo quando deixa uma incógnita na cabeça, uma interrogação insistente. Nesse dia eu tentei retomar o sonho, pra ver se ele continuava de onde parou. Não consegui. Eu creio que é possível, difícil, mas possível. Já sonhei por três dias seguidos a mesma história que parecia estar dividida em três capítulos, sonhava um capítulo por dia.

Sonhos às vezes me assombram, às vezes me acalmam, às vezes me revelam coisas. Como o dia que eu penei pra tocar a introdução da música “Drão” do Gilberto Gil, da forma como o próprio Gil faz, e não consegui. Ao dormir, sonhei com a disposição das notas pelo braço do violão e como eu poderia tocá-las. Juro que acordei logo em seguida sem motivo algum, corri pro violão e estava certo aquilo que eu tinha sonhado. Há alguns anos, me assombravam sonhos em que eu sempre me via nas ferragens retorcidas de um carro no instante seguinte do acidente. Esse então eu sonhei muitas vezes, um assombro terrível.

Me acalma sonhar que eu estou lá na serra da Mantiqueira, na varanda lá de casa assistindo a tarde. Me acalma sonhar com crianças correndo ao meu redor fazendo bagunça. Me acalma sonhar com uma pessoa amada, da família, dos amigos, que um dia eu vou conhecer pra amar ou dos que já se foram e ainda são amados. E, ao mesmo tempo em que me estimula hiperatividade, também me acalma sonhar com o palco, com a música, seja qual for. Seja a minha banda, seja com meus companheiros de Cia, seja eu só com meu violão e a voz que me foi vestida quando vim ao mundo.

Eu creio nas mensagens dos sonhos, sem ser paranóico. Em certos momentos os sonhos te ajudam, outros eles te avisam e outros servem apenas para entreter um sono tranqüilo, ou um momento de desconexão do mundo (se estiver sonhando acordado). O sonho é o espaço livre de cada um, para ser o que quiser e fazer o que quiser. É por vezes a voz do anjo da guarda. Um instante de descobertas quando não há mais nada lhe impedindo de descobrir.

O sonho funciona como uma TV particular e independente, que sintoniza-se quando bem entende e transmite programações variadas do próprio subconsciente.

Querem um bom conselho? Sonhem!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Escada - Allyson Alves

Essa escada que nunca termina.
Nunca chego lá em cima.
Essa escada é irregular,
Tem vãos e degraus altos pra pular.
Essa escada sobe e não dá pra voltar.
Todo dia uma das pernas se põe a forçar,
O piso às vezes quebra ,
E as pedras soltas escorregam.
Eu regrido dois ou três degraus.
Amanhã me ponho a escalar
E venço o dobro, e uma hora,
Dobro essa escada...
O topo não deve estar longe...
Pra mim que não desisto.

terça-feira, 30 de março de 2010

O Palhaço - Allyson Alves

Existe um momento
Em que o Palhaço mergulha na própria lágrima
Da própria maquiagem, da própria solidão.
Desta incrível profissão que lhe dá o pão.

O Palhaço é um homem bom.
Mesmo que não seja um Palhaço bom.
Mesmo que não seja um bom homem.
Mas é Palhaço, e pra alguém, isso há de ser bom.

Existe um momento
No meio da graça, de toda a palhaçada que lhe trará o pão,
Que o homem e o Palhaço se confundem.
Esse momento, no picadeiro cercado de gente, é de solidão.

O Palhaço é o aliado do homem.
E o homem na corda bamba de sua vida circense,
De sonhos lúdicos, domando gente, equilibrando o mês,
Num insistente malabarismo, sobrevive como truque de mágica.

O homem chamado de Palhaço
Faz graça com ele próprio.
Trabalha a alegria de quem o procura,
Multiplica sorrisos de até crianças adultas.

O Palhaço se vai com a água
No fim do espetáculo.
E fica o homem. Metade humano, metade Palhaço.
Hora aclamado, hora um pobre diabo...

Ser Palhaço é um dom, que alguns deixam de lado.
Preferem ser homens, porque Palhaço é algo abstrato.
Se esquecem que o homem, ora, tão forte e real, uma hora se vai.
E quem fica é seu aliado, de sorriso estampado. Eterno. Palhaço!

Minha Casa - Allyson Alves

Desejo de procurar minha casa,
Fazer a mala, pôr o pé na estrada,
Seguir viagem.

Calar-me pra ver se os ouvidos descansam.
Ir até a montanha e roubar-lhe um pouco do ar.
Trancar meus sentimentos no peito, abrir os olhos,
Praquilo que eu já conheço, mas rever de um novo jeito.

Desejo de procurar minha casa,
Acreditar na estrada, tomar coragem.
Me fazer vingar até a estiagem.

Escrever pra descansar a boca.
E ler pra ter no que pensar.
Escolher que humor vestir.
E deixar este amarelar no guarda-roupa.

Desejo de procurar minha casa,
Saber que a vida está de passagem,
Fazer a estrada. Na mala: coragem!

Pensar pra não me perder.
Dormir para que os sonhos me venham
Assombrar, estimular, entreter.
Acordar pra me refazer.

Desejo de procurar minha casa,
Me vestir de coragem, inventar a passagem,
Seguir viagem!

Esquecendo os bolsos vazios.
Tapeando a fome de alívio, a sede de escritos,
Que eu mesmo crio.
Ninguém me impede. Se tentam, eu rio.

Desejo de procurar minha casa,
Não sei se perdida, não sei se guardada.
Pintada de idéias. Cheia de graça!

Tropeços me atrasam o ritmo.
Levanto, e logo me sigo.
Sem mapa, sem rumo...
Só Deus e o caminho.

Desejo de encontrar minha casa,
Do lado de fora parece de palha.
Que venham os ventos. Nada ameaça!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Tranquilo (o dia que foi) - Allyson Alves

O dia foi cheio.
Cheio de pessoas, lugares, ares,
Assuntos, palavras, histórias...
Cheio de espaços vagos entre uma coisa e outra.
Mas às vezes não.

O dia foi cheio de músicas, algumas repetições...
Cheio de observações sobre todas as coisas...
Até que um dia cheio de cores, valores, notícias,
Risos e nenhuma carícia... mas foi tranqüilo.

Esse dia não se repetirá.
Mesmo que façamos tudo igual, tudo de novo.
Ele não se repetirá.
O que vimos e ouvimos jamais tornará a acontecer.
O dia é igual a um rio, que passa, corre, escorre e vai...

O dia foi bem quente, e eu não gosto muito disso.
Foi diferente, porque não reclamei dos acontecidos.
Foi um dia de momentos insistentes, mania de perfeccionismo.
Foi melhor que alguns que eu já tinha vivido.
Contudo, foi um dia tranqüilo.

O dia foi cheio, de resultados positivos.
O dia foi também bastante divertido.
Até que foi um dia autentico, de compromissos.
Obrigado Deus por mais um dia, e que dia tranqüilo!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Coisa de Amigos - Allyson Alves

A amizade é uma benção.
Uma aliança, uma família.
Um beco sem saída.
Amizade mesmo nunca é de mentira.

Amizade tem briga, tem riso;
Tem abraços, beijos, tapas e beliscos;
Coisas sem nexo, sinceras;
Coisa de amigos.

Amizade é colo, é abrigo.
É cola pro coração partido.
É escudo pros inimigos.
É zelo... coisa de amigos.

Amizade é aturar o divertido
O mal humorado, o sarcástico,
O sincero, a sensível, a maluca,
O introvertido, o extrovertido, o sagaz
O enrolado, o desinibido, a cautelosa,
O sem juízo, a tpm, a lua que virou,
O que se vê todo dia, o amigo sumido,
O que tem chulé, a que fala dormindo,
Aquele ronco de noite, a que ta sempre dormindo,
A distraída, o malucão, o torcedor, o beberrão,
A caçulinha, o paizão, a irmã do meio e o parcerão,
A otimista, o pessimista, o engraçado, a pervertida,
O que gosta de frio, o que gosta de praia,
A que dá sempre ouvidos, e a que só fala,
O porre, a marra, o mala, a chata, a piada sem graça,
A hora de voltar pra casa, a falta de grana, a falta de sorte,
O ponto de ônibus, a distância da casa, o romance, o bate boca,
A discussão sem motivo, a falta de assunto,
O assunto que ninguém esquece, a pelada do fim de semana,
O filme bom, o ruim, o engraçado, o que deu sono e ninguém viu o fim,
O barzinho, a conta do barzinho, a escolha do motorista pra depois,
Os encontros inusitados, os telefonemas inusitados,
As boas notícias pra contar, o amigo novo do grupo,
Aquele que já foi do grupo, as boas, as furadas,
A confiança e o risco de quebrar a cara, o carro que enguiçou,
A privada que entupiu, o dinheiro que alguém sempre deve,
E aquele que a gente nunca vai receber, o presente surpresa,
A festa surpresa, e a que você sabe também, a disputa por atenção,
Pelo banco do carona, pelo ultimo pedaço, pela companhia...

Amizade é algo que eu não sei explicar.
Coisa boa, coisa de Deus,
Coisa de amigos,
Pessoas como você, pessoas como eu.

terça-feira, 16 de março de 2010

O Café - Allyson Alves

Moça, sentada no quarto
Calçando sapatos largos
Que são meus... ora, são meus!
Abotoando uma grande camisa
Vermelha... é minha camisa!

Dizendo “eu fico aqui com você”
“quer colo?”, “eu faço o café”.
Que logo chega, por mãos de mulher.
E logo se ajeita. Açúcar, colher...
Pão e manteiga... “você também quer?”

Moça que cedo liga a TV.
Não senta pra ver,
Não pára pra ser.
Quer tudo em paz, eu e você.
Bem capaz, se pudesse prever.

Moça na cama, pronta pro sono.
Não fala, não reclama,
Não sente abandono.
Descalça os sapatos, desabotoa a camisa.
Ora... “boa noite”... boa noite querida!

sábado, 13 de março de 2010

Palavras que não me cabem - Allyson Alves

Outro dia me peguei dizendo coisas que nem me passavam pela cabeça. Não sei se é normal, se isso faz sentido, mas não combina muito comigo. Temos que responder por aquilo que falamos, e é sempre muito difícil quando falamos sem pensar, sem medir as conseqüências. E é possível dizer algo sem pensar antes? Sair construindo frases desordenadamente sem sequer contextualizar? É... não sei, mas fiz!
Falar é um vício, e um grande perigo. Falar é necessário, um exercício incansável, a porta pro imaginário do outro. É a causa de muitos conflitos, o ato, ou se recusar a fazê-lo. É o início de muitos amores, duradouros ou passageiros, ou uma tentativa infeliz de se conseguir a companhia e/ou o beijo de alguém (há quem planeje algo mais).
Falar é simples, mas saber o que dizer, e como dizer é complicado. Por isso, pensar! Por que não? Pensar antes de falar e não correr o risco de ser mal interpretado. De qualquer forma, é ainda uma tarefa difícil. Cada um com seu pensamento silencioso, em particular, mesmo os que têm o pensamento mais alto, mas estamos todos sempre pensando em particular. E pensar diferente faz com que cada um de nós se expresse de formas diferentes, e às vezes tão bem esclarecidos. Às vezes não, (eu mesmo) por muitas vezes expressando algo incompatível com o pensamento, gerando uma confusão generalizada do assunto entre quem discutia.
Tem quem fale com a boca, com o rosto, com os olhos, com o corpo, com as mãos, e, como é muito comum hoje em dia, com os dedos. Falar à distância, sem olhar nos olhos e poder dizer o que sente e o que pensa sem aquele clima desconsertante de ter o outro assistindo o seu ato de apenas dizer. Tímidos se apresentam e verdades brotam até mesmo sem os próprios descobrirem de onde saíram. Para quem tem muito a dizer, escrever é uma boa solução. Para quem não sabe o que dizer, escrever também é uma boa solução, como pra quem não sabe como dizer, como fazer ou como esquecer.
Escrever é poder enxergar as palavras, quase como um espelho. Vemos aquilo que não vemos quando está em nós. Escrever engrandece, envaidece, dá asas à imaginação, permite o reler físico além do psíquico, para melhor compreensão daquilo que se quer comunicar, ou relatar. Escrever é aliviar o peso de ter que carregar as palavras em forma de pensamento, todas, dentro da cabeça.
E como saber o que é real ou irreal? As palavras mentem? Não! As palavras disfarçam, enganam, porque são manipuladas. Palavras ditas têm valor de verdade? Passam total certeza de que estão carregando a verdade até o fim da frase? E as escritas? São mais confiáveis? Palavras não distinguem o certo do errado por si mesmas, palavras lindas, de amor, podem ser cruéis, causar danos... dor. E como saber? Ainda não descobri, mas vamos continuar tentando entender.
No fim desse texto, deixo claro de que não há em mim a certeza de que soube me expressar. Como eu pretendia, não sei, tentei, mas eu me expressei. A força da palavra está na liberdade de expressão. Escrever pode ser só um jeito tímido de dizer: “Eu amo você” ou “Eu odeio você”. Falar é dirigir-se ao outro com a sua palavra, a expressão oral e vital, do seu próprio corpo. Agora eu vejo que pensei, escrevi, usei de palavras para tentar me expressar, tentar dizer, tentar mostrar, e, principalmente, me fazer entender que falar é algo belíssimo, porém, complicado de se fazer.

Outra Vez - Allyson Alves

O que te faz pensar que tudo é ruim?
Eu digo a você que não é bem assim.
O que te faz pensar em mim?
O mesmo que me faz pensar em ti?

O que será que tem no fim?
Do arco-íris, da vida, do espaço...
No fundo do mar existe outro mundo?
No fundo dos olhos outra pessoa?

A vida real, bem me faz rir,
E curtir o que é e o que foi,
Faz-me planejar o que será.
E eu não me queixo se não gostar.

Hey garota, vem comigo!
Só dê ouvido ao seu coração.
Com o tempo te explico...
Todo louco tem um pouco de razão.

Confia no risco, e no imprevisto.
Com a cabeça erguida e um pouco de juízo
Passe pela vida, antes que ela passe por ti.
Dê a volta ao mundo, mesmo que depois pare aqui.

Todo dia e toda noite
Eu pergunto se a vida vale tanto açoite.
Ninguém nunca me responde.
Vou descobrindo por ai, não sei por onde.

Hey garota, que de tudo tem idéias tortas!
Quem eu sou ainda não importa
Vou valer a confiança
Seja de homem, mulher, adulto ou criança.

Eu digo a você que não é bem assim.
Tudo tem o seu por que, hora e lugar.
Sempre tentar pra ver no que dá.
E se não der, tentar de novo, e todo dia tentar!

Pra Você - Allyson Alves

Algumas horas falta tempo só pra nós;
Algumas horas falta um bom lugar.
Algumas vezes falto eu ou você;
Algumas vezes só ligando pra se ver.

Algumas horas falta grana e opções;
Algumas horas sobram opiniões.
Algumas vezes eu te sinto sem te ter;
Algumas vezes só entendemos se doer.

Algumas horas falta nota na cantiga;
Algumas horas falta o que sentir falta.
Algumas vezes falta bossa em nossas vidas;
Algumas vezes falta nova, falta a antiga.

Algumas horas falta som, falta silêncio;
Algumas horas falta luz e escuridão.
Algumas vezes não nos percebemos;
Algumas vezes entendemos, outras não.

Algumas horas são tão longas;
Algumas horas são chamegos relâmpagos.
Algumas vezes é normal, na medida;
Algumas vezes o exagero causa mal.

Algumas horas eu finjo que não amo;
Algumas vezes você finge que não vê.
Algumas horas você é um anjo;
Algumas vezes sou o diabo pra você.

Algumas vezes eu te amo e te amo;
Algumas horas ouço isso de você.
Algumas vezes nos brigamos por engano;
Algumas horas são o bastante pra entender.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Borboleta - Allyson Alves

"Caçando palavras como se caça borboleta;
eu via você no final de uma rua estreita
e ria de cá pra não te mostrar graça.
De graça, aqui fiquei muito tempo.
E que graça, custou tão caro!
Você voando feito borboleta
e eu me palavreando, garranchando em cadernos errados.
E quando aprendi a desenhar borboleta,
você me apreendeu no seu vocabulário!!"

A solidão - Allyson Alves

Eu me pergunto quem sou
E a solidão responde.
Não me interessa o nome...
Não me interessa o nome...

Ela até diz: meu amor!
Vive querendo romance.
E fala isso com fome...
E fala isso com fome...

A solidão me mudou
De casa e telefone,
Me transformou nesse tédio...
Desmedido perigo constante...

Revoltei-me de vez...
E disse à solidão:
“Parei com você!”
Vou ser eu, vou ser.

Voltar a escrever,
Cantar, sorrir, viver e esquecer
Que uma certa solidão pode aparecer.
E dela eu fujo, estou no palco pra quem vê.